Como a inflação afeta o bolso do consumidor brasileiro

Excesso de gastos públicos, mudanças nos preços da gasolina, no gás natural e seus impactos na inflação de 2022.

Por: Alexsandra Silva e Ezequias Vaz

De acordo com as jornalistas Flávia Said e Mariana Costa do portal Metrópoles, pôde-se analisar que houve um grande aumento nos valores atribuídos à marcha de 07 de setembro de 2022. Segundo o Diário Oficial da União, no ano de 2019 foi designado o valor de R$ 971,5 mil para o desfile. Em contrapartida, no ano de 2022, o valor é 247% maior do que o gasto na mesma data em 2019. O governo desembolsou R$ 3,38 milhões no evento do ano atual.

Além desse gasto exorbitante, o governo contratou outros serviços que incluem cenografia, serviços de vídeos e bandeiras. Com isso contabilizou o valor de R$ 679,5 mil direcionados a esses encargos.  

Desde 2021, o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), procura usar o feriado de 07 de setembro para demonstrar força política, a fim de convocar seus apoiadores para atos em apoio ao governo atual.

(Hugo Barreto/Metrópoles- Desfile de 07 de setembro em Brasília)

Você sabe o que é inflação?

Inflação é um conceito que traduz o aumento generalizado de preços de bens e serviços. Ela é um conceito econômico conhecido entre os brasileiros, associado diretamente ao consumo. O aumento dos preços não é necessariamente ruim ou prejudicial ao consumidor, principalmente quando é controlado, espaçado ao longo do tempo e vem acompanhado de reajustes nos salários-mínimos. Mas ele pode causar transtornos para os consumidores e para a economia de um país quando aumenta em uma velocidade maior do que pode ser absorvida, de acordo com a matéria publicada pelo site Info Money.

Um dos setores que mais sofrem com a inflação é o combustível, a sua alternância de preços nos últimos anos e recentemente com sua queda, reflete um mercado em transformação e em constante mudanças.

De acordo com a Central Única dos Trabalhadores, desde janeiro de 2021, a gasolina e diesel sofrem altas de 77,04% e 78,71%, respectivamente. Desse modo, o aumento dos combustíveis foi um grande fator da elevação geral dos preços no ano anterior. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE, a inflação encerrou o ano de 2021 com alta de 10,06%. O grupo Transportes apresentou a maior variação (21,03%) e o maior impacto (4,19 pontos percentuais) no índice do ano.

Para os consumidores, a gasolina subiu 47,49% em 2021, conforme o IPCA. Além disso, o gás de cozinha e o gás natural veicular (GNV), que têm os preços definidos pela Petrobras, tiveram altas de 33% e 36%, respectivamente, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Conforme a matéria publicada pelo G1, a Petrobras definiu dia 01 de setembro o quarto reajuste para baixo do preço da gasolina desde meados de junho. O valor de venda às distribuidoras foi reduzido em 7,08%, de R$ 3,53 para R$ 3,28 por litro. Em menos de três meses, o combustível sofreu redução de 19,2% no valor praticado nas refinarias. No pico da curva, o preço chegou a R$ 4,06, em 18 de junho. A queda é uma mistura entre o declínio dos preços dos combustíveis no mercado internacional com uma redução de impostos forçada pelo governo federal em ano eleitoral. Os combustíveis eram um dos principais motores da inflação do país a poucos meses da escolha de um novo presidente. O preço da gasolina tem sido beneficiado pela queda do petróleo no cenário internacional. Há uma preocupação com uma possível desaceleração do crescimento mundial. 

   (Imagem registrada pelo fotógrafo Marcello Casal-Jr./Abr em um Posto de Combustível em Minas Gerais no dia 16 de março de 2022)

Visando a necessidade de extrair conhecimentos de profissionais, foi realizada uma entrevista com a jornalista, mestre e doutora em literatura e educadora Ana Carolina Cernicchiaro, de 44 anos, que atua na Universidade do Sul de Santa Catarina, Unisul. 

(Arquivo pessoal/ Ana Carolina Cernicchiaro)

“Na verdade, o aumento exponencial da gasolina desde 2018 já era resultado da política econômica mal sucedida do atual governo. No Governo Bolsonaro, o diesel subiu 203% e a gasolina quase 170%. Desde que foi criada, a Petrobrás tinha uma política de manutenção do valor do petróleo para o mercado interno de forma que a população brasileira ficasse protegida da variação do preço do barril no mercado internacional. O atual governo, em benefício dos acionistas (ou seja, dos poderosos em detrimento da população), manteve a política de paridade de importação (PPI) da Petrobrás, implantada pelo governo Michel Temer em 2016. Isso fez com que a inflação aumentasse muito. A baixa no valor da gasolina neste momento é uma estratégia puramente eleitoreira, para agradar os desavisados e ganhar votos. Se vencer as eleições, Bolsonaro voltará com os preços altíssimos”, pontuou a educadora. 

Outros tópicos importantes que a entrevistada trouxe foram as propostas do seu candidato, acerca do controle da inflação, como a pandemia influenciou no aumento da inflação, se o assunto é decisivo para a tomada de decisão nas eleições e qual a opinião dela a respeito da solução do controle da inflação.

De acordo com a jornalista e educadora Ana Carolina Cernicchiaro, durante o governo petista a taxa de inflação permaneceu controlada. A média da taxa caiu de 7% em 1995 – 1998 para 5,1% entre 2007-2010. O Brasil voltou a crescer e a colher os frutos desse crescimento, principalmente pela expansão do investimento, do crédito fornecido pelos bancos públicos e do mercado interno de consumo assalariado, a partir da política de distribuição de renda e expansão e formalização de empregos que ampliaram a renda das famílias e as vendas de varejo. E o candidato Luiz Inácio Lula da Silva pretende voltar com estas estratégias como forma de crescimento.

A educadora discorre que o tema é decisivo para uma tomada de decisão, pois ele está diretamente ligado à diminuição do poder de consumo e ao aumento da miséria da população. Além disso, Carolina Cernicchiaro opina que para o controle da inflação, o governo precisa controlar o preço dos combustíveis no mercado interno, voltar a uma política econômica de distribuição de renda e de maior consumo, além de subsídio aos pequenos produtores.

Com base nas informações encontradas através das pesquisas e com opiniões da professora Ana Carolina Cernicchiaro, percebeu-se a necessidade de realizar algumas entrevistas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com o intuito de trazer pontos de vistas diferentes dos eleitores em relação ao tema inflação.

Daniel Hulcs, de 49 anos, foi entrevistado na Universidade Federal de Santa Catarina, no dia 02/10/22.

Em contrapartida, foram obtidas opiniões diferentes, como da eleitora Camila, 31 anos, doutoranda em Filosofia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que aponta o governo atual com um alto índice de inflação. Camila, que é natural de Belém do Pará, percebeu a grande divergência de valores nos supermercados quando se mudou há alguns anos e ao comprar alimentos atualmente. Além disso, ressalta o quanto o tema é importante para uma tomada de decisão nas eleições.

A doutoranda acredita com veemência nas propostas de seu candidato acerca do controle da inflação. Entre elas está a geração de emprego através do aumento do comércio e retomada das obras paradas atualmente. Camila pontua que ele possui três palavras chaves: credibilidade, previsibilidade e estabilidade, temas muito positivos para a melhora do índice de inflação. Ela complementa ao citar que a pandemia influenciou o aumento da inflação, visto que a partir do Lockdown diversos trabalhadores permaneceram em casa e, apesar dela concordar com o confinamento, entende que ele afetou a população.

Visando trazer pessoas que tenham um posicionamento e uma visão mais ampla sobre o atual cenário econômico, a professora Silvânia Siebert, formada em jornalismo pela Universidade Federal do Estado de Santa Catarina, concedeu uma entrevista sobre esse tema que deve ser debatido. Ela também é autora, possui alguns livros já lançados sobre diversos temas, e atualmente atua como educadora na Universidade do Sul de Santa Catarina.

“Eu acho que a pandemia mudou tudo no mundo, nossos hábitos, a forma de pensar, mas eu acho que a pandemia deu uma oportunidade do governo investir em áreas estratégicas e não foi feito. Por exemplo, a educação teria que ter tido um investimento muito alto em tecnologias para as escolas públicas e capacitação dos professores. Nós poderíamos ter tido uma oportunidade maravilhosa e melhorar, inclusive, essa educação com esses recursos sendo direcionados para as escolas. E não houve nada disso, nós estamos com um déficit educacional muito grande.”

Sabe-se que, atualmente, a internet é uma predominante potência de conhecimento, mas infelizmente, encontram-se pessoas sem acesso às informações básicas, como a inflação ou quais propostas os candidatos citam sobre o tema. É preciso falar sobre a importância de entender esse processo que envolve itens de insumo diário e que impacta diretamente o bolso do brasileiro. Percebe-se que a relevância do debate em salas de aula e em ambientes de trabalho, por exemplo, são pertinentes para que o assunto possa vir à tona e ser tema de discussão.

Quando o preço dos combustíveis sobe, toda a economia é pressionada e impactada. A alimentação fica mais cara, o transporte, a saúde e a educação.

Através de matéria publicada no Diário do Comércio, foi constatado que o custo com combustível representa um percentual muito alto, que pode chegar até 60% sobre o faturamento. Tendo em vista um aumento constante no preço dos combustíveis, acredita-se que será necessário fazer uma reformulação no remanejamento de funcionários para poder custear as despesas geradas pelo seu aumento.

A inflação dos combustíveis foi uma das pautas mais quentes da corrida eleitoral de 2022. Pressionado politicamente pelos altos preços, Bolsonaro apostou forte num pacote de desoneração controverso para baixar o preço, sobretudo da gasolina, às vésperas das eleições. De junho para setembro, o litro do derivado caiu de R$ 7,25 para R$ 5,00, na média do Brasil, que se tornou um dos 30 países com a gasolina mais barata do mundo, segundo o Global Petrol Prices.

Os agentes do mercado financeiro elevaram a previsão de inflação para 2023 pela 16ª semana seguida, de acordo com o relatório Focus publicado no dia 17 de outubro. A expectativa é de inflação em 5,30%. Nesse patamar, a inflação estouraria a meta estipulada para o Banco Central (BC) pelo terceiro ano seguido. A meta de 2023 é de 3,25% com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

O sucessor da Presidência da República terá de lidar, em 2023, com uma realidade de preços elevados no mercado internacional, segundo projeções de analistas. O cenário exigirá uma resposta rápida do governo, inclusive sobre o que fazer com a desoneração que amenizou a inflação dos derivados nos últimos meses, mas que ainda tem seu futuro incerto.

1 comentário Adicione o seu

  1. Elizangela Cunha Rodrigues disse:

    Abordagem muito atual, especialista falam do cenário da inflação com muita clareza, para que todos possa compreender melhor toda a situação e perceber o impacto que a mesma tem causado p os brasileiros.

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