Abstenção e votos nulos: seu impacto na corrida presidencial

Entenda a propagação das fake news no cenário político

Por: Amabile Back e Lua Vitória Trupel

Em pleno ano de eleição (2022) é quase impossível não comentar ou ouvir falar sobre política. Apesar de muitos tentarem abster-se e considerar o assunto como “tabu”, é extremamente necessário discorrer sobre esse tópico, ainda mais em pleno momento de globalização de vias comunicativas diversas, nas quais uma parte da população brasileira tem acesso. Com todo esse acesso, ainda assim, não temos informações difundidas nas escolas ou na rede televisiva com intuito de ensinar o povo a base de uma eleição: não nos é ensinado como escolher candidato, a  ordem dos votos e menos ainda sobre a falta de representação, que gera votos nulos e brancos.

 Antigamente, com os votos marcados em cédulas, votos em branco poderiam ser posteriormente preenchidos com outro candidato e fraudados; quanto aos votos nulos, há uma má interpretação da lei Art. 224, (2015),  que diz :  “Se a nulidade atingir mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 a 40 dias.” Segundo o site do Tribunal Superior Eleitoral, a palavra “nulidade “ em questão, refere-se à falta de validade e fraude, não a quantidade de votos nulos. Também não significa que uma nova candidatura será levantada.

Essas informações não são debatidas no cotidiano do povo brasileiro e muitos eleitores não têm acesso e sequer sabem que existe uma diferença, o que gera uma grande disseminação de informações falsas quanto votar em branco ou nulo. Quem nunca ouviu dos pais que votar branco contabilizava votos para o candidato à frente ou que votar nulo levantaria uma nova candidatura? 

Com o propósito de conhecer o cenário base do atual eleitor em 2022, saímos a campo em Florianópolis, em pleno 7 de setembro,  determinadas a discutir a polarização política que estamos vivendo e o conhecimento da população das mais diversas classes sociais sobre nosso tema.

 Após entrevistarmos muitas pessoas, os dados observados e coletados resultaram em informações importantes para nossa situação política atual, que envolve a má informação acerca dos votos nulos e brancos. Apesar de sabermos que muitas outras fake news são criadas e espalhadas a todo momento, resolvemos focar em duas: a informação de que votos nulos e brancos contabilizam para o candidato à frente; e uma possível nova eleição, caso esses mesmos votos ultrapassem metade dos votos válidos.

  As entrevistas foram realizadas no Dia da Independência (07/09)  no aeroporto de Florianópolis, com acesso a pessoas de diversas partes do país. Primeiramente, perguntamos informações pessoais, para saber o perfil dos entrevistados, como nome, onde moram, idade, sendo a maioria dos entrevistados natural de outro estado.

(Aeroporto Internacional de Florianópolis).
Créditos: Amabile Back

  Ao serem questionados sobre a entrevista, algumas pessoas se sentiram nervosas ao saber que o assunto seria política,  mas ao enfatizarmos que o tema seria “Votos Nulos e Brancos”, concordaram conversar sobre.

 Apesar de se sentirem confortáveis com o tema, uma grande parte dos entrevistados não soube explicar a diferença entre ambos os votos, resultando  em uma pergunta importante: até que ponto o conhecimento dos brasileiros sobre esses outros dois meios de votos existe em nosso país? 

 Com isso em mente, mas ainda focando em nosso tema principal, continuamos a entrevista. Explicamos a diferença para os entrevistados que primeiramente não sabiam sobre; depois seguimos com as devidas perguntas acerca das notícias falsas.

Votos nulos contabilizam para o candidato à frente?

(gráfico com a quantidade em porcentagem acerca do conhecimento sobre a fake news: “votos nulos contabilizam para o candidato à frente”

 Todos os entrevistados já tinham ouvido a informação de que “os votos brancos contabilizam para o candidato à frente”, o que nos mostra  quanto os conteúdos errados alcançam uma grande parcela da população. Apesar de 100% dos entrevistados já terem escutado sobre essa fake news, apenas 37,6% destes sabiam que isso não era verdade, enquanto metade ainda acreditava nessa informação, que foi desmentida por nós; ainda houve uma fração que não soube opinar se a informação era verdadeira ou não…

Quanto a segunda notícia falsa, de que uma nova candidatura seria levantada caso metade dos eleitores votassem nulo ou branco, obtivemos os resultados: 

Uma possível nova candidatura

(gráfico com a quantidade em porcentagem acerca do conhecimento sobre a fake news: “Possível nova candidatura”) 

Acerca da segunda informação, outra parcela dos participantes já tinha ouvido falar de uma possível nova eleição, em meios familiares e virtuais, e mais da metade concordou com a fake news,que também foi desmentida por nós. Todas as pessoas aparentaram surpresa e um pouco de revolta ao saber que isso não seria possível.

A disseminação desses conteúdos errôneos alcança qualquer pessoa com acesso a internet, interessado ou não em política, porque recebem recomendações por algoritmos; A temática é também falada, passada de pais para filhos e permeia todas as eleições.  Outrora, quando o voto era marcado em cédulas e posteriormente contabilizado pela junta eleitoral, a informação sobre a possibilidade de o voto em branco ser remetido a outro candidato poderia fazer algum sentido. Isso porque, ao realizar a contabilização, eventualmente e em virtude de fraude, cédulas em branco poderiam ser preenchidas com o nome de outro candidato, não em decorrência do regular processo de apuração.

Essas Fake News não se propagam apenas virtualmente, como relatado anteriormente: uma grande parcela da população acredita nessas informações porque elas foram passadas também de pessoa para pessoa, seja dentro de casa, no trabalho, por familiares e amigos. 

Ponderamos se essas notícias falsas ainda estariam no cotidiano dos brasileiros no dia oficial das eleições( 2 de outubro de 2022)  e se isso afetaria o possível resultado.

 Considerando a última pesquisa eleitoral Datafolha antes das eleições (divulgadas no último sábado 01/10), votos nulos/brancos seguem em 3% da população. Os que não sabem responder, 2%. Visto que tais votos não possuem valor para a Justiça Eleitoral, caso a comunidade fosse melhor instruída, seria possível uma decisão determinada  logo em primeiro turno. 

Então repetimos nossa pergunta: se a população tivesse o acesso necessário à informação, os resultados mudariam?

Um de nossos entrevistados, que não concorda com a obrigatoriedade da votação, declara: “Tudo que é obrigatório se torna menos democrático.” É indispensável uma instrução de qualidade ao povo brasileiro. É preciso saber sobre como votar e o impacto que privar-se de uma votação gera. Com a presente polarização, os eleitores têm cada vez mais medo de ir às urnas:  “Eu desejo o melhor para todo mundo”, disse uma de nossas entrevistadas, ao ser perguntada sobre como se sentia com relação a eleição e os possíveis resultados. 

Perguntamos também a opinião dos eleitores acerca de um possível aumento dos votos nulos e brancos, devido a polarização política que enfrentamos durante este ano, que é a concentração em polos extremos de ideologias e partidos resultando em apenas duas vertentes. Recebemos opiniões diversas: “É uma forma de protesto…não tem outro jeito” , “ Não é justificativa para votar nulo e branco”  .

Já com a apuração dos votos do primeiro turno realizada no fim de domingo (02/10) é possível observar que 2022 registrou o recorde de votos válidos e o menor percentual de votos nulos e brancos desde a primeira eleição direta para presidente, em 1989. Em contrapartida, mais de 32 milhões de brasileiros não foram às urnas, atingindo o maior percentual de abstenção em uma eleição.

(Eleitores em fila de espera no colégio eleitoral São Miguel, São José, em Santa Catarina.)
Foto por Amabile Back 

Conversamos ainda com eleitores na fila de votação, no dia dois de outubro, e muitos afirmaram insegurança ao sair de casa ou trajar roupas com cores relacionadas a partidos. Uma das eleitoras declarou: “Estão minando a gente, oprimindo. Tiram tudo, até nossa bandeira”, ao se referir a polarização e o medo de ir às urnas.

 Os partidos visam agora a campanha para o segundo turno direcionada ao eleitor, que por falta de identificação, não manifestou seu direito de voto. O objetivo é instruir o eleitor para que o percentual não se repita, sendo necessário um incentivo ao ato de votar. A espera é que isso refletirá positivamente nos próximos resultados, apesar da falta de identificação da população inclinada a não votar em nenhum dos dois pilares dessa polarização:  “ Se ficar para segundo turno quem eu não quero, eu voto nulo mesmo”, disse uma de nossas entrevistadas. 

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