Ele é o primeiro entrevistado desta série com os candidatos a assumir a prefeitura de Palhoça
Ivon Jomir de Souza, de 56 anos, é Coronel aposentado pela Polícia Militar. Filiado ao PSL, ele é pré-candidato ao cargo de prefeito de Palhoça. Ivon é figura conhecida na história da política palhocense. Já disputou a prefeitura do município algumas vezes e chegou a ganhar a eleição em 2012, mas acabou não assumindo o cargo por uma briga judicial entre ele e o presidente municipal do partido pelo qual se elegeu, o PSDB.
Ivon teve o registro de candidatura indeferido, pois a nominata com os nomes dos 60 membros do diretório municipal do seu partido havia sido alterada. No total, 16 dos 60 nomes haviam sido substituídos de forma irregular e ilegal. Por conta das substituições na nominata, a convenção que havia formalizado as candidaturas do PSDB a prefeito, vice-prefeito e também vereadores foi anulada pela juíza substituta da época.
Segundo ele, a sabotagem na documentação que levou à impugnação da sua vitória foi comandada pelo próprio presidente do PSDB, Carlos Alberto Fernandes Junior, o Caco, com o auxílio do secretário geral do partido, Allan Pyetro de Melo Souza. O Ministério Público reconheceu que havia indícios de crime e enquadrou os dois réus em três artigos da Lei Eleitoral.
Ivon faz uma análise do momento pelo qual a cidade atravessa e fala de temas como economia, segurança pública, educação e mobilidade.
Coronel Ivon, muitos moradores de Palhoça reclamam da mobilidade e da falta de planejamento do município, como as obras do Centro de Palhoça que vem causando transtorno aos comerciantes e muito trânsito. Como você vê esse tema?
Naqueles loteamentos como os que foram construídos no Bela Vista, onde hoje vivem mais de 10 mil pessoas, a infraestrutura é zero. A mobilidade? Só tem uma saída praticamente. 10 mil pessoas saindo pelo mesmo lugar. Que planejamento foi esse? Porque tu não podes pensar somente no hoje. Tem que pensar como aquilo vai estar daqui a 20, 30 anos, porque se você não pensa assim, em 10 anos aquilo vai estar um caos. Como se faz um investimento como esses da praça, das calçadas, loteamentos? Parece que foi tudo feito a toque de caixa. ‘Vamos fazer! Porque aparece, porque vai dar voto’. É preciso sentar e conversar com moradores, comerciantes para saber o que é melhor para eles.
No que se refere a desenvolvimento econômico, Palhoça teve um crescimento notável nos últimos 20 anos. Como podemos seguir nesse caminho?
Houve sim um crescimento econômico natural aqui, porém há muitas empresas que vieram para apenas fazer galpões para guardar estoques. Nós temos que trazer empresas que possam agregar nas áreas de empregos e impostos. O empresário precisa ser atraído para investir aqui, mas também oferecendo algo para nós, através de impostos e empregos. Palhoça é uma cidade estratégica para o desenvolvimento econômico e para o turismo, mas ela não é vendida para o Brasil e para o mundo de forma com que as pessoas queiram vir e investir aqui.
Qual a sua visão sobre a educação em Palhoça?
Na verdade educação é tudo. Educação é algo que se tem que dar destaque e prioridade. Com uma boa educação, nós tomamos mais cuidado na prevenção de problemas de saúde. Estamos mais preparados para o mercado de trabalho e para participar da sociedade como um todo. Hoje, com essa situação toda de crescimento desordenado, encontramos outro problema. São 3.500 crianças cadastradas na fila para conseguir vaga na creche. Então a mãe ou o pai não conseguem sair para trabalhar pois precisam ficar em casa cuidando do filho. Sem trabalho não há renda, não há gasto no município, retorno em impostos. Sem educação e formação, as empresas contratam moradores de outro município. Isso gera uma cadeia de problemas sociais que muitas vezes vai resultar no aumento da violência.
Falando sobre violência, Palhoça somou 83 homicídios entre 2016 e 2018, ficando em sexto lugar no ranking de cidades mais violentas do estado. Quais as razões para esses números e possíveis soluções?
Além da falta de educação, o crescimento desordenado da cidade também tem envolvimento com a violência. Muitas pessoas chegam aqui em busca de uma vida melhor e acabam não conseguindo emprego, optando às vezes pelo caminho errado. Outro problema grave é a falta de efetivo. Nos últimos 20 anos, o número de policiais militares caiu, enquanto o número de moradores disparou. Isso é falta de planejamento e de conversa entre governo municipal e o estadual. A falta de monitoramento também é outro ponto. Na última semana estive no Aririú conversando com alguns comerciantes e eles colocaram mais de 20 câmeras no bairro por contra própria. Precisamos ter um investimento maior em monitoramento, pois, onde há câmeras, há também sensação maior de segurança.
Coronel Ivon, para encerrar, o que o Senhor acha do sistema de transporte coletivo de Palhoça? A Jotur é alvo de críticas por faltas de horários e mau funcionamento dos ônibus.
Na verdade, eu não sei o que está enterrado por ali. A gente vê tantas reclamações, tantos absurdos acontecendo e eu não entendo por que persistem com a Jotur. Não é que eu tenho algo contra a Jotur. Se amanhã eles apresentassem uma frota nova, linhas novas, eu elogiaria a Jotur. Então é isso que precisamos buscar. Bons ônibus, com ar-condicionado, com acessibilidade, com demanda suficiente para suprir a necessidade da população e não viver com os ônibus lotados. Quando a população ver que mudou, que há uma facilidade e um conforto maior em pegar ônibus, ela começa a pensar duas vezes antes de sair de casa de carro.