“Sinto que é como se tivesse uma bomba prestes a explodir ao meu lado e eu estou de mãos atadas. Não estamos vencendo os problemas, apenas estamos os ignorando, porque não encontramos soluções.“

Muitos setores sofreram prejuízos desde o decreto do governo de Santa Catarina que proibiu, em 17 de março, o funcionamento de restaurantes e a realização de eventos que geram aglomerações, como uma das principais medidas para combater a disseminação do coronavírus . Os proprietários de negócios precisaram reinventar seu trabalho e pensar em estratégias para conseguir driblar a crise da Covid-19 e continuar faturando. “Como vou pagar meus funcionários”? Esta foi a primeira pergunta que Suelin Cristini de Oliveira, que juntamente com a família ajuda no gerenciamento do Restaurante e Pizzaria Suelin, na Ponte do Imaruim, em Palhoça, pensou com o início do decreto.
A pizzaria, que funciona no período noturno, utiliza apenas a tele-entrega, mas o restaurante aberto ao público durante o dia precisou fechar as portas por muitas semanas. As contas de luz e água, os impostos do governo e o pagamento de funcionários são coisas que não esperam e as ideias para solucionar os problemas de alguma forma precisavam surgir.
A primeira medida adotada foi em relação aos funcionários. O restaurante e a pizzaria funcionam com sete empregados. Com o caixa sem muita perspectiva de conseguir pagar as férias para todos eles, apenas um ganhou o benefício. Os demais continuaram trabalhando normalmente.
Entretanto, a solução é temporária, pois logo os funcionários precisavam do pagamento mensal e o restaurante e a pizzaria tinham que gerar renda para suprir as necessidades de Suelin e sua família. Era preciso reinventar o negócio e pensar em formas de levar a comida feita aos moradores da região. Desse modo, utilizando as redes sociais, começaram a investir nas divulgações dos serviços pelo Facebook, Instagram e WhatsApp. Outra estratégia também foi utilizar a tele-entrega, que já era adotada antes, mas que agora ganhou mais atenção.
O restaurante e a pizzaria tiveram dias bons e ruins durante a quarentena. Houve um aumento considerável no número de marmitas, subindo para 15 entregas diárias. Em média, nos dias bons, o restaurante vende 65 marmitas. Já a pizzaria não teve nenhum aumento, com uma média de oito pizzas por dia e 25 nos finais de semana.
A higienização do estabelecimento e dos funcionários, que já era rigorosa, se tornou ainda mais com a pandemia. As louças são lavadas e esterilizadas, mesas e cadeiras têm distância segura. Os funcionários sempre fazem a higienização das mãos com água e sabão e quando isso não é possível, o álcool em gel está em locais de fácil acesso. Eles também usam máscaras de proteção. E as precauções se estendem aos clientes também. Além disso, em relação aos pedidos, todas as embalagens e materiais recebidos são higienizados na chegada. Mantém-se a higiene durante todo o processo de preparação até a comida chegar nas mãos dos motoboys, que usam máscara e carregam álcool em gel na caixa de entrega.
O restaurante e a pizzaria vêm mantendo suas atividades, mas será que estão conseguindo vencer os desafios que a Covid-19 trouxe? Para Suelin, as soluções são temporárias e o medo de como sobreviver ao próximo mês se torna cada vez mais real. “É como se tivesse uma bomba prestes a explodir ao meu lado e eu estou de mãos atadas. Não estamos vencendo os problemas, apenas estamos os ignorando, porque não conseguimos encontrar soluções”, desabafa.
Grazieli Hasse Tenffen, proprietária do Doce Arte Grazi, na Ponte do Imaruim, em Palhoça, também sofre prejuízo com a pandemia e busca soluções para continuar as atividades. Grazi trabalha na cozinha de casa, fazendo doces tradicionais e finos, além de bolos para festas. Atende todo o tipo de público, mas em geral a classe média baixa. O negócio existe há seis anos e Grazi tem a ajuda da irmã.

Com a proibição de eventos, as incertezas começaram. Toda a agenda de março e abril foi comprometida e, com isso, os trabalhos foram afetados. Com o passar das semanas, Grazi conseguia algumas encomendas, pois o pessoal começou a fazer pequenas comemorações em casa, para aliviar o estresse de ficar muito tempo sem poder sair, mas não era o suficiente para aliviar as perdas do que tinha sido marcado e cancelado.
Somente com as datas comemorativas, como a Páscoa e dia das mães, Grazi teve um pequeno alívio no negócio. Com a divulgação dos doces nas redes sociais como Instagram e Facebook, além da elaboração de sorteios, Grazi conseguiu chamar a atenção do público e vender seus doces. Entretanto, não é nada comparado aos tempos sem pandemia.
O negócio de Grazi também tem cuidados rigorosos de higienização. São tomadas todas as medidas referentes à limpeza dos produtos, tanto os que entram como os que são entregues. O trabalho também é feito com luvas, máscaras e álcool em gel.
Com o atual momento de sua empresa, Grazi pensa em perspectivas futuras. “Esta pandemia nos pegou de surpresa e nos paralisou. Não digo que tivemos grandes prejuízos, pois tudo que compramos, pagamos à vista e não temos estoque muito extenso de mercadoria, mas o salário nesse período não tiramos, aí as contas particulares foram prejudicadas”. Ela tem esperança na aposta para o futuro. “Vamos nos animar se tudo voltar ao normal depois dessa pandemia, mas se o povo cancelar as festas, vai ser difícil recuperar”.
Há aqueles que são proprietários de negócios há muitos anos, mas também existem aqueles que escolheram 2020 para começar novas perspectivas profissionais, como é o caso de Amanda Borges. Ela sempre gostou muito de maquiagem, mas a vergonha não a deixava dividir isso com as pessoas. Somente a partir do momento que percebeu que a timidez a estava privando de seguir em frente, decidiu vencer a dificuldade e fazer o que gosta.
No início do ano, Amanda começou a produzir conteúdo para o Instagram e logo após começou a atender as clientes em sua casa, em Palhoça. Para se dedicar inteiramente ao negócio, no final de fevereiro Amanda pediu demissão do emprego fixo. As coisas estavam indo bem, mas logo os problemas chegaram. As maquiagens de 15 anos, que Amanda havia marcado para março, foram todas canceladas ou adiadas. Como grande parte das clientes dela são derivadas de algum evento, o trabalho foi bastante afetado.

Desde então, Amanda encontra na rede social um subsídio para continuar atuando com o que gosta. Seu Instagram vem sendo uma plataforma para produzir conteúdos que proporcionam fotos e vídeos dando dicas de beleza, maquiagem e até desafios divertidos como o “evoluiu challenge”, desafio de maquiagem caracterizado por vídeos curtos em que a pessoa passa por transformações surpreendentes. O diferencial do desafio é editar o vídeo no ritmo de alguma música ou cena, de forma que os cortes acompanhem o ritmo do som. “Acredito que além de divulgar o meu trabalho, é uma forma de eu continuar trabalhando com a área que eu amo. Assim me distraio e passo conteúdo para quem me acompanha também”, ressalta.
Durante a quarentena, Amanda conseguiu fazer somente dois atendimentos, ambos para ensaios fotográficos. Ela sonha em levar o trabalho para fora de casa e no futuro ter um espaço do seu jeito. Entretanto, a meta teve que ser adiada, pois, no momento atual, precisa pensar na renda. “Eu acredito que as coisas continuarão no mesmo ritmo, infelizmente! Ao meu ver, tem mais chances de normalizar mais para o final do ano, ou então ano que vem. Não posso contar com essa fonte de renda para os próximos meses”, conclui.
Kiara Silva