Em entrevista exclusiva ao Fato & Versão, o presidente do Avaí, Francisco José Battistotti, fala da situação difícil enfrentada pelo clube – para ele falta confiança aos jogadores – e das estratégias para permanecer na elite do futebol. Ele disse que a atual gestão está pagando o preço de erros passados: “Estamos saldando dívidas de 1988”, reclama. “Estas dívidas nasceram de decisões irresponsáveis, tomadas com base na vontade de conquistar títulos, mas sem se importar como”.
Ainda assim, de acordo com ele, o Avaí fechou o primeiro semestre do ano com superávit de R$ 6.400.000. “Isto é inédito na história do clube,” afirma. A entrevista foi concedida no sábado (14/11), na Ressacada, logo após o término do jogo Avaí e Figueirense, válido pela Copa Santa Catarina, no qual o time da casa venceu o rival por 2 a 1.

O Avaí está na última colocação do campeonato brasileiro. Qual estratégia o clube pretende adotar para não ser rebaixado?
As contratações terminam dia 27. Até lá, se tiver jogador no mercado que venha para nos ajudar – vestindo a camisa e sendo titular, alguém que possa motivar o elenco – nós vamos trazer. O feedback de outros treinadores e de outras comissões técnicas é o seguinte: o time joga bem, mas infelizmente não finaliza. Isso também acontece por conta da quantidade de jogos que passamos sem vencer. A ansiedade do jogador fica muito elevada, ele fica ansioso na frente da área. Às vezes, nós, torcedores e presidente, incentivamos os jogadores a chutar, mas eles acabam jogando para outra pessoa porque não querem ter a responsabilidade de um erro em frente ao gol.
É um contrassenso, né?
Exatamente. Mal sabem eles que se chutarem e marcarem gol, deixam de ser cobrados para serem ovacionados. Isso é o que temos que botar na cabeça dos atletas. Nosso time é um time jovem. Nós temos, hoje, dez jogadores oriundos da base no elenco profissional. Então você precisa fazer com que esse pessoal tenha mais confiança.
Mas além da falta de confiança dos atletas, houve algum problema de gestão?
A gestão de um clube não se limita única e exclusivamente às coisas que acontecem dentro de campo. Gestão envolve toda uma situação financeira, administrativa… Então é preciso se preparar. Quando eu assumi, entendia apenas de gestão de empresas. Fui, então, fazer um ano de curso de gestão de futebol no Rio de Janeiro, para ampliar este conhecimento. É diferente você gerir uma empresa e gerir um clube de futebol. A empresa, você trabalha com a razão – gere, busca o lucro e isso faz com que tenha sucesso. No clube de futebol, você tem que separar a razão da emoção e isso é muito difícil.
Por quê?
Porque além de gestor, você também é torcedor. Então, na decisão que precisa ser tomada, a razão deve sobressair a emoção, porque se você inverter essa balança, a tendência do clube é ficar deficitário. Te dou uma informação em primeira mão: o balanço do primeiro semestre de 2019, nós estamos fechando com R$ 6.400.000 positivo. Isto é inédito na história do clube. Antes, eram constantes os balanços fechados com índices negativos. Nós estamos conseguindo reverter essa situação. Mesmo sem bons resultados dentro de campo, estamos focados em uma boa gestão.
E o que é uma boa gestão em um clube?
Boa gestão é um clube completamente saneado. Quando esse grupo assumiu o Avaí, a nossa filosofia era exatamente esta: clube vencedor é clube saneado. Não adianta termos um título agora e deixarmos o clube completamente endividado porque, lá na frente, alguém vai pagar. Infelizmente, o meu grupo está pagando por erros passados. Não estamos gastando mais do que se recebe, estamos pagando dívidas passadas para que a gente consiga, no futuro, entregar um clube completamente saneado.
Em números, o que isso significa?
Hoje, o Avaí trabalha com 75% de toda a sua receita, os outros 25% é separado para pagar déficit anteriores. Estamos pagando déficit de 1988! Estas dívidas nasceram de decisões irresponsáveis, tomadas com base na vontade de conquistar títulos, mas sem se importar como. No grupo atual é o seguinte: “eu quero ser campeão, mas dentro de um limite do que se recebe e do que se gasta”, se não for agora, um dia vai ser. Um clube deve ser tratado dessa forma.
Emanuela Lima