Diversidade é alfabetizar em português e em guarani

A escola Itaty fica às margens da BR 101, que corta a aldeia indígena Tekoá Itaty, localizada no Morro dos Cavalos, em Palhoça. São três professores e com 55 alunos matriculados. Todos indígenas.

Do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental, as crianças aprendem a língua materna, o guarani. É somente a partir do sexto ano que os alunos começam a estudar o português. Para o coordenador da escola, Samuel de Souza, ensinar as crianças sobre a importância da língua já vem dos mais velhos. 

Na tradição guarani, os conhecimentos são passados de geração em geração, dos mais velhos para os mais novos, através da oralidade. A língua também é ensinada dessa forma. “Os mais velhos falavam e falam até hoje sobre a preservação da língua guarani. As criancinhas aqui falam bem a língua materna, mas às vezes também misturam um pouco com o português”, comenta Samuel. 

O Brasil é o terceiro país com maior diversidade de idiomas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 274 línguas indígenas faladas por 305 povos.  Estima-se que antes da chegada das caravelas nas terras tupiniquins, existiam cerca de 1,5 mil línguas indígenas faladas pelos povos originários e que foram extintas sobretudo pelo genocídio dos indígenas durante e após a colonização portuguesa.


De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), no mundo existe cerca de 7 mil línguas. Cerca de 97% da população mundial falam 4% destas línguas. A UNESCO lançou oficialmente em janeiro deste ano, o Ano Internacional das Línguas Indígenas, com o objetivo de chamar a atenção para a importância da preservação não somente da fala, mas também da riqueza cultural dos povos. “Os povos, as etnias elas são constitutivas. E isso é uma riqueza importante. Não dá para ter uma receita única para todos. Não dá para fazer “mcdonaldização” do mundo”, explicou o professor e antropólogo Jaci Rocha Gonçalves. 

A colonização deixou de herança sua língua e também a extinção de milhares de indígenas e, com eles, a riqueza da diversidade dos povos que viviam aqui. Impedir que os indígenas se comunicassem em seu idioma significava a completa escravização e morte de sua cultura e de suas raízes. A UNESCO afirma que só no Brasil cerca de 190 línguas ainda correm o risco de extinção. No século XX foram quase 100 línguas indígenas extintas. 

Falar guarani já é um problema para muitos indígenas. “Quando eu era pequeno, falávamos tudo em Guarani. Quando achávamos um trabalho, o patrão nos proibia de falar a nossa língua. Ele dizia que se quiséssemos trabalhar, teríamos que aprender a falar o português”, comentou Samuel. “Um dos maiores defeitos que a humanidade tem tido, sobretudo nos últimos 500 anos, mas também em outros momentos, é a violência do diferente que é tornado como inimigo, e eu preciso derrotá-lo para sobreviver. A diversidade não é tomada como uma riqueza”, explicou o professor Jaci. 

Texto: Bianca Taranti

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