O bairro perfeito e seu contraste social com os bairros vizinhos no município de Palhoça
Para promover usos mais dinâmicos dos passeios públicos, fortalecer a vida urbana e sustentável e garantir a interação com atividades instaladas nos térreos de edificações, o empresário Marcelo Consonni Gomes desenvolveu o projeto Pedra Branca. Muitos acham que trata-se apenas de um bairro sem muros, mas o maior objetivo foi criar um bairro sustentável.
A cidade Pedra Branca possui uma estratégia de sustentabilidade no bairro, chamada de “ecodistrict” dos prédios – green buildings – e de educação do “usuário verde”. Devido a estas questões, a empresa foi convidada pela Fundação Clinton – fundada pelo ex-presidente norte-americano Bill Clinton – a participar da iniciativa de Desenvolvimento do Clima Positivo. Aderindo ao projeto, as comunidades assumem o compromisso não apenas de minimizar seu impacto ambiental, mas de implantar soluções que ajudem a reduzir danos causados por gases de efeito estufa.

Em 2014, o negócio evoluiu, foram aprimorados os conceitos do novo urbanismo e da sustentabilidade não apenas para residências, mas também para lojas comerciais e áreas de lazer. A Pedra Branca contratou o arquiteto e urbanista dinamarquês, Jan Gehel, por ser um arquiteto que construiu sua carreira com base no princípio de melhorar a qualidade de vida urbana através do planejamento urbano em favor de pedestres e ciclistas. “Tiramos palmeiras, investimos em cabeamento de fios elétricos subterrâneos e, principalmente, começamos a privilegiar o passeio público com calçadas mais bem-acabadas”, conta Gomes.
O foco na sustentabilidade também está em ensinar o tema para as crianças residentes do bairro. Uma das empresas do Grupo Pedra Branca, o SAE (Sistema de Água e Esgoto), realiza anualmente um trabalho sobre o uso consciente da água nas escolas do bairro, no Dia Mundial da Água, impactando mais de 500 crianças de escolas do bairro. A empresa Ecoeficiência, responsável pela coleta de resíduos sólidos e soluções ambientais, também realiza apresentações de teatro para crianças sobre a produção de lixo em eventos no Passeio Pedra Branca.
Para os residentes do bairro, a busca por alta qualidade de vida para os filhos foi o que motivou a mudança para a Pedra Branca. As crianças socializam pelo Passeio com outras crianças, entram em contato com a natureza, participam de feiras interativas e tudo isso dentro de um ambiente seguro e sem muros.“É importante criar espaços públicos de qualidade, com pontos de encontro”, conclui Marcelo e explica que, além dos planos para a região, a companhia já pensa na expansão do negócio pelo País, explorando os chamados “vazios urbanos”. São áreas próximas a metrópoles que podem ser utilizadas para a construção das cidades com as características dos ambientes urbanos adotados pela Pedra Branca: verdes, integrados e criativos.

O contraste social e econômico dos bairros que rodeiam a Pedra Branca é enorme, não são tão sustentáveis assim. Circulando pelos bairros Brejarú e Frei Damião é possível encontrar facilmente situações precárias. A começar pelo saneamento básico, até 2013 os moradores sofriam com a falta de saneamento, mas ganharam um planejamento que consta no Ministério do Planejamento em Brasília, como concluído. Ao caminhar por uma das ruas encontro um catador de sucatas, Reginaldo de 42 anos, em conversa conta que mora no Brejarú há 5 anos por não ter condições de achar um lugar mais seguro e com condições básicas. Descubro também que o saneamento não foi tão acessível como contado em várias notícias. Muitos despejos e outras burocracias aconteceram para que poucos conseguissem o mínimo.
Lá, muitas casas também não tem muros e grades, mas os moradores não se sentem tão seguros assim. Enquanto as calçadas do passeio Pedra Branca foram milimetricamente planejada, as ruas de Frei Damião são cheia de buracos e muita lama. Vizinhos de Reginaldo contam que a única visita que eles recebem de pessoas mais favorecidas são frequentadores do Aeroclube de Santa Catarina, que praticam seus hobbies em um campo abandonado situado no bairro.
É realmente admirável a ideia de morar em um bairro sustentável, mas é utópico para pessoas como as do bairro Brejarú e de outros bairros em condição semelhante. Mesmo morando próximo ao Passeio Pedra Branca, alguns nem ousaram entrar lá, não conhecem ou só temem o preconceito. São pessoas simples que almejam o mínimo: saneamento básico, segurança e educação de qualidade.
Por Chayene Ribeiro