O Espiritismo e a aceitação da morte através da crença

A crença no pós-vida auxilia na aceitação da perda de familiares e amigos.

O espiritismo, ao contrário do que muitos acreditam, trata-se de uma doutrina e não de uma religião. Seus seguidores acreditam que a vida na Terra é uma passagem e que ela continua após a morte. As casas espíritas recebem a todos, sem distinção.

Chico Xavier, um dos mais importantes expoentes do Espiritismo, foi um dos responsáveis por tornar a doutrina ainda mais conhecida e respeitada no Brasil, através de obras como “Nosso Lar” lançado em 1943. O livro foi o mais vendido e divulgado dentre as obras do médium, tornando-se filme em 2010, quando já havia vendido mais de dois milhões de exemplares.

Milhares de fiéis buscavam por Chico para que através da psicografia, pudessem obter um último contato com seus entes queridos que haviam falecido recentemente a fim de entender a morte. Assim é até hoje.

Foto: Chico Xavier psicografando.

Juliano Mateus dos Santos, 25 anos, é morador de Florianópolis há pouco mais de um mês e após sua mudança de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, para a capital, seu primeiro pensamento foi de encontrar uma casa espírita que pudesse frequentar. “Vivi com a minha avó e minha mãe até os 18 anos, depois saí de casa. Perdi minha avó cinco anos atrás, desde o seu falecimento sonhava todos os dias o mesmo sonho, o mesmo gesto nos sonhos, sem trocar nenhuma palavra, eu acordava gritando e chorando, os sonhos eram resumidos em eu voltando a morar na casa dela, dando um beijo de boa noite nela e na minha mãe. Conversando com outras pessoas resolvi fazer uma consulta espírita, nessa consulta fiquei em frente a uma médium que incorporava o espírito de um índio, e já no início da sessão ele me avisou que minha avó estava do meu lado na sala, e que o desejo dela como nos sonhos era que eu voltasse para casa, porque ela não queria deixar a minha mãe sozinha”, conta.

Juliano foi aconselhado a conversar com sua avó e explicar que tinha a sua vida e o seu próprio destino, que não estava abandonando sua mãe e que ela deveria seguir o caminho e achar a luz. “Depois de sair de lá os sonhos acabaram e três dias depois tive um novo sonho, em que toda a família estava reunida e meu avô – falecido há mais de 35 anos – buscava minha avó, os dois se despediam de todos, partindo. Depois disso passei a frequentar centros espíritas para entender a morte e a aceitá-la, aprendi que não existe só esse plano, só essa vida, que a humanidade faz parte de um estágio de evolução espiritual.”

O caso de Juliano, se repete com muitos, de diferentes maneiras. Atualmente, o trabalho iniciado por Allan Kardec tem 13 milhões de seguidores no mundo. A maioria, 3,8 milhões, está no Brasil. Em casos como de uma das obras de Francisco Xavier, “As mães de Chico Xavier”, a atriz Vanessa Gerbelli faz o papel baseado em fatos reais, da mãe que perdeu seu filho de cinco anos de idade e que vê em Chico uma chance de entrar em contato com a criança e superar sua morte.

A visão científica

Espíritos existem? E reencarnação? Para alguns cientistas, sim. Essa vertente científica do espiritismo surgiu, em boa parte no Departamento de Psiquiatria da USP, onde em 1999, foi fundado o Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (ProSER), nele cientistas dedicam-se justamente a examinar os efeitos da religião na saúde das pessoas. O chefe do Departamento de Psiquiatria da USP, Eurípedes Miguel, explica em entrevista à Revista Super Interessante: “A medicina está se movendo de um eixo (que tinha como meta combater a doen­ça) para (que privilegia a promoção da saúde)”, diz. “Estamos interessados em qualquer método que possa ajudar as pessoas, mesmo que fuja aos nossos padrões.”

No entanto, para o cosmologista americano Sean Carroll, professor de Física do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), em Pasadena (EUA), a vida após a morte não é algo cientificamente possível. “Afirmar que alguma forma de consciência persiste depois que o corpo morre e os átomos decaem enfrenta um enorme e insuperável obstáculo: as leis da Física relativas à vida cotidiana são completamente compreendidas e não permitem, de forma alguma, que informações armazenadas em nossos cérebros se mantenham depois que morremos“, explica o cosmologista em entrevista para a revista científica americana Scientific American.

De todo o modo, mesmo considerando as incertezas científicas, a crença tem o poder de “tranquilizar” aqueles que perdem seus entes queridos, proporcionando a sensação de bem-estar ao saber que aqueles que são amados, vivem bem, porém, em outra dimensão.

Segundo o parapsicólogo clínico, Demétrio Caramalak, é comum que as pessoas busquem por esse tipo de conforto através da fé, mas não se deve descartar um acompanhamento psicológico pós-traumático.

 

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