A análise dos eleitores indecisos, não convictos ou dispostos a votar em branco, permite projetar e compreender o desenrolar de um cenário às vésperas de uma das eleições mais disputadas da história do país.
Por: Maria Julia e Gabriel Dias
Em geral, o eleitor brasileiro compreende uma disputa eleitoral para presidente em um formato que é chamado de triangular, ou seja, três candidatos em uma disputa razoavelmente próxima. Neste ano, conforme as candidaturas foram se confirmando, o cenário das eleições se consolidou e evidenciou a polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

População brasileira em ano de pandemia
A análise dos eleitores indecisos, não convictos ou dispostos a votar em branco, permite projetar e compreender o desenrolar de um cenário às vésperas de uma das eleições mais disputadas da história do país, em que, segundo uma pesquisa Datafolha, realizada entre 16 a 18 de agosto, 6% dos brasileiros afirmaram que ainda não haviam decidido em quem votar para Presidente da República nas eleições de 2022. A expectativa do segundo turno é de 4%.
Desde setembro de 2021, a taxa de eleitores que se declaram indecisos, ou que pretendem votar em branco ou nulo, passou de 58% para 36%, de acordo com a análise dos resultados da pesquisa Genial/Quaest, divulgada em 17 de agosto de 2022. Além de entender melhor o perfil dos indecisos, para Renato Dorgan, especialista em estratégia política, a parte indecisa do eleitorado pode determinar os rumos de uma eleição polarizada. Segundo o professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Nelson Destro Fragoso, “hoje em dia há três necessidades para o eleitor: necessidade de aprovação, necessidade de pertencer a um grupo e medo de castigo”.
Relato de uma eleitora
Também em relação a indecisão, em uma breve entrevista realizada no dia 25 de setembro, de acordo com a Raquel Iglesias de 37 anos, esposa, mãe, eleitora e residente da cidade de Palhoça, ressaltou: “O povo está sem esperanças, pois os partidos que já passaram pela presidência deixaram a desejar, não cumpriram totalmente com seus deveres como soberano, então isso é de grande relevância para gerar a indecisão na mente de quem vai às urnas nestas eleições. A disputa presidencial está acirrada entre duas figurinhas repetidas, os eleitores já conhecem como eles trabalham e como administram o país”.

Pessoas que se consideraram nesse grupo, analisam o primeiro debate presidencial como ‘frustrante e opaco em propostas’. A observação é de uma pesquisa qualitativa do Datafolha realizada no dia 28 de setembro, que ouviu 64 pessoas indecisas sobre o voto do pleito de outubro. A pesquisa não é representativa da população brasileira e visa mostrar a percepção do grupo. Pesquisas que apontam baixo número de indecisos, ao perguntar a preferência do eleitor, se antecipam com a expressão: “se as eleições fossem hoje”. Assim, os resultados também são tratados como retrato do momento.
O especialista CNN em economia, Alexandre Schwartsman, diz não se ver surpreso com a amostragem. “Não é a corrida política de 1989, em que o Lula foi para o segundo turno raspando. Isso aqui está cristalizado desde o zero do jogo e com a figuras muito conhecidas”, explica. “Mesmo que esses 6% decidissem ir para o Bolsonaro, não evitaria o segundo turno e o Lula ainda venceria no primeiro”. “Então, isso acaba fazendo com que nós tenhamos um nível de cristalização de escolhas muito alto e um número de indecisos, por consequência, muito baixo”, analisa o cientista político Creomar de Souza. Em sua opinião, o fato acontece pela popularidade dos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). “Por eles já terem sido presidentes e por seus atributos já serem conhecidos. E também pela cristalização da rejeição de cada um, sem caminho viável para a terceira via. A popularidade dos dois nas pesquisas foi colocada em jogo muito antes destas eleições.” conclui o analista.
Claramente é o efeito da polarização que transparece ao eleitor ser bipolar, e faz com que o voto seja decidido muito tempo antes, reduzindo as chances de ele mudar de opinião nos últimos dias que antecedem o 2 de outubro. Esse fenômeno evidencia as eleições deste ano como um segundo capítulo de 2018. “O número de indecisos representa um enorme desafio para os candidatos”, afirma o cientista político José Álvaro Moisés. Na avaliação do cientista, a existência desse grupo “mostra que o processo eleitoral não tem sido suficiente para esclarecer tudo que as pessoas gostariam.” Outro fenômeno que prejudica ainda mais a confiança nas medidas de intenções de voto: a forte segregação da população brasileira. Ocorre um isolamento agravado pelos algoritmos das redes sociais, que nos prendem em ilhas de preferências políticas, podendo causar falsas percepções da realidade.
As bolhas de indiferença nas eleições, a elevada abstenção e as decisões tardias de voto, também são marcas dos últimos pleitos, e produzem surpresas que podem ser apontadas como erros flagrantes dos institutos de pesquisas. Desse modo a não-ação também é uma opção para os indecisos, afinal a indiferença política está presente em uma parte da população brasileira. ‘Indiferente politicamente’ é quando não se pensa em quem deposita o seu voto, ou quando não dá a mínima para o que o político eleito faz.
Pessoas indiferentes ficam à parte dos eventos políticos, seja por vontade própria, por falta de acesso a veículos de mídia ou por não se sentirem responsáveis pelo que é comum a todos. E as consequências dos votos nulos e em branco? A Constituição determina que esses votos não sejam contados como válidos. O voto em branco significa que o eleitor opta por não votar em nenhum candidato. Já o voto nulo ocorre quando o eleitor digita um número inexistente de candidato ou de legenda.

Montagem dos candidatos às eleições
Na eleição de 2018, uma pesquisa encomendada pela RecordTV ao instituto RealTime Big Data, apontava que 59% dos eleitores brasileiros entrevistados ainda não tinham decidido em quem votar para candidato a presidente do país ou tinham intenção de votar em branco ou nulo.
A realidade das eleições de 2022 revelou um percentual de votos brancos e nulos que caiu quase 50%, é o menor desde 1994, e de acordo com o blog Jornal Opção, em meio à polarização, os indecisos se tornaram poucos. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), este ano foram 5,4 milhões, o equivalente a 4,41% do total. Em 2018, brancos e nulos foram registrados 8,8%.
Segundo as apurações dos votos das eleições que aconteceram no dia 02 de outubro, a disputa deste ano acabou com o ex-presidente Lula (PT) em primeiro lugar, com 48,3%, e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) em segundo lugar, com 43,2% dos votos. A abstenção atingiu 20,3% do total, maior percentual desde 1998. E assim como é inédito o baixo percentual de indecisos, é também a primeira vez no Brasil que um presidente enfrenta um ex-presidente nas urnas. Lula e Bolsonaro são dois candidatos que se mostram ao eleitor como antagônicos, opostos, eles conseguem então garantir a popularidade em determinados grupos – sociais, econômicos e regionais. Na mesma data e com 100% das urnas apuradas, foi definido o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais de 2022. E no estado de Santa Catarina, Jair Bolsonaro (PL) obteve 62,21% dos votos válidos, contra 29,54% de Lula (PT).
A polarização no Sete de Setembro
As manifestações de 7 de setembro geraram certos impactos, onde a presença do povo nas ruas pode representar uma demonstração de força política em um momento decisivo na corrida presidencial. Tamanha é a convicção sobre o potencial eleitoral das manifestações no dia da independência, onde muitos acreditam que os atos populares ajudarão a alcançar votos entre os indecisos, sendo capazes de ampliar uma base eleitoral. Sendo assim, as manifestações podem repercutir nas pesquisas, segundo a análise do cientista político Jonatas Varella, diretor de processamento de dados da Quaest.

No dia do bicentenário da independência, o 28° ‘Grito dos Excluídos’ reuniu membros de entidades sociais, estudantis e sindicais em um ato na capital Florianópolis, movimento que acontece nas principais capitais do Brasil. A tradicional mobilização teve pautas como defesa da educação e respeito à democracia, com faixas, cartazes e gritos de ordem durante a marcha pelas ruas do centro da cidade. Também houve outras reivindicações, como o fim da violência contra negros e pobres, fim da truculência das polícias e direito à terra. “Bolsonaro fez uso indiscutível de um evento oficial para discursar como candidato. Há abuso de poder econômico e político, com o uso de recursos públicos, de uma grande estrutura pública, para fazer campanha. Os discursos desse comício escancarado foram transmitidos ao vivo para toda a nação, inclusive por meio da TV Brasil, uma TV estatal”, afirmam os advogados Eugênio Aragão e Cristiano Zanin Martins, que representam a campanha de Lula.
De acordo com o site Estadão, o Presidente Jair Bolsonaro (PL) queria transferir o desfile do Dia da Independência para Copacabana, na Orla da zona Sul, tipicamente o local é palco de manifestações pró-Bolsonaro. Um desfile militar nunca aconteceu no bairro, já que tradicionalmente ocorre no centro da capital fluminense e, segundo o jornal O Globo, havia dúvidas do Comando Militar do Leste sobre a possibilidade de transferir a atividade para a zona Sul do Rio.
Confira alguns resultados
O ex-presidente Lula (PT) terminou à frente, com 6 milhões de votos a mais do que o atual presidente, a diferença entre eles foi menor do que previam as pesquisas. Lula venceu no Norte e no Nordeste e Bolsonaro saiu vitorioso no Sul e no Centro-Oeste. Presidente da República – votação em Palhoça (SC) Jair Bolsonaro (PL): 63.393 votos (57,80%) e Lula (PT): 35.455 votos (32,32%) Presidente da República – votação em São José (SC) Jair Bolsonaro (PL): 81.511 votos (55,23%) e Lula (PT): 50.433 votos (34,17%).
Pesquisa de campo
Em uma pesquisa de campo realizada entre os dias 26 e 30 de setembro, por alunos do curso de jornalismo da UNISUL, através de um formulário anônimo online, 21 pessoas responderam a um bloco de perguntas relacionadas ao atual cenário político. O resultado indicou que entre os entrevistados, 66,7% estavam decididos de seus votos e 33,3% indecisos de seus votos. Analisando as respostas, foi questionado se a possibilidade de a intenção de voto mudar, 52,4% responderam que não, 23,8% responderam que talvez, 23,8% responderam que sim, isso ressalta um quadro que pode ser considerado bastante instável ou surpreendente. Todas essas informações foram apuradas até o momento do fechamento desta matéria.

Desfecho
Ainda sobre a disputa para o cargo de presidente do Brasil, o cenário expõe sucintamente a diferença entre a intenção de votos dos candidatos e a realidade. As intenções dos votos para o candidato Ciro Gomes (PDT), por exemplo, se mostravam em 7%, mas o resultado final apresentou um declínio, totalizando em 3%. Portanto, em comparação com as expectativas, pode-se observar que cerca de 4% dos eleitores que declararam voto em Ciro, escolheram outra opção de voto.
Jair Bolsonaro (PL), obteve cerca de 6% a mais do que apontavam as pesquisas. E os votos em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cresceram cerca de 4% ao comparar em como era a estimativa. Deste modo as pesquisas mostram que o número de eleitores indecisos é próximo da distância que separa o primeiro e o segundo colocados na disputa.