As pequenas cidades exercem um papel importante nas eleições, tendo em vista suas diferenciações das grandes metrópoles do país.
Por: Emilly Ronchi e Nicolly Kellet
Segundo o IBGE, o Brasil possui 5.570 municípios, destes, quase 5.000 são consideradas cidades pequenas. De acordo com a tipologia das cidades, constitui-se cidade pequena, uma cidade que possui até 99 mil habitantes. Em Santa Catarina, a proporção de pequenos municípios em comparação aos grandes também é superior: são 295 ao total, com 282 deles encaixando-se na categoria.
Curitibanos e Meleiro (cidades do centro-oeste e sul do estado de Santa Catarina) são conhecidas por serem cidades pequenas, suas populações consistem em consecutivamente 39.893 e 7.001 (censo realizado em 2020).

Mesmo somando o eleitorado apto a votar de Curitibanos, com 31.501 pessoas, e o de Meleiro, com 6.039 e multiplicando por dez, o número não chega à quantidade total da cidade de Florianópolis, que conta com 399.606 votantes, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A partir desses números, se pode imaginar a diferença do ambiente eleitoral entre os municípios.
Apesar das Eleições 2022 abrangerem votos estaduais e federais, vale ressaltar que o ideal da velha política predomina nas pequenas cidades, ou seja, a tendência de personificar a política em determinadas figuras. Devido ao fato das alianças se iniciarem em âmbitos reduzidos, quando as autoridades municipais têm a oportunidade de se tornarem estaduais e/ou federais, a população acredita que elas trabalharão com foco na região da qual se originam, assim inclinando seu voto a estas pela esperança de ser priorizada.
Curitibanos

Na microrregião do Contestado, está Curitibanos. Atualmente contando com quase 40 mil habitantes, já teve maior área e, em certos momentos, população: da cidade localizada no coração de Santa Catarina, surgiram, por exemplo, Campos Novos; Fraiburgo; Canoinhas; São Cristóvão do Sul, entre outros. Destas mudanças, outros pontos precisaram ser moldados, e em destaque, está a economia que sofreu a transição de foco somente na agricultura e na pecuária para a adição também da indústria e do comércio.
Sendo um grande produtor agrícola, Curitibanos tem destaque na produção de cereais e fruticultura – que já foi denominado “capital do alho”, hoje demonstra diversificação econômica. De acordo com dados de 2012 da Associação dos Municípios da Região do Contestado, a AMURC, a cidade tem sua economia formada 61% pela indústria e comércio, 24% pela agropecuária e 14% por transportes e serviços públicos. Além disso, a cidade ganhou movimento pelo campus da Universidade Federal de Santa Catarina, que deu início às suas atividades em 2011 e possui os cursos de Agronomia, Engenharia Florestal e Medicina Veterinária, e aguarda a chegada de Medicina.
Já o cenário político, quando analisado, não teve mudanças de segmentação tão radicais: seis dos últimos dez mandatos de prefeito na cidade foram de políticos filiados ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB, antigo PMDB), inclusive o do atual gestor municipal, Kleberson Lima. No momento, a Câmara de Vereadores, composta por treze representantes, também é majoritariamente formada por membros do MDB: são seis, juntamente a quatro do PL e três do PSD.
Meleiro

Meleiro está localizado no extremo sul do estado de Santa Catarina. De acordo com o Censo 2020 do IBGE, a cidade possui 7.001 habitantes. A economia da cidade é dominada pela agricultura, principalmente o cultivo de arroz, cobrindo cerca de 70% do seu território. A cidade de Meleiro é o corredor de ligação entre o litoral e o planalto catarinense, antigamente, os pastores viajavam com mulas, transportavam mercadorias e se comunicavam com antigos acampamentos antes mesmo das primeiras famílias ali se estabelecerem. Historicamente, Meleiro pertencia ao município de Campinas do Sul, atual município de Araranguá. Com o crescimento da comunidade, tornou-se o distrito de Campinas do Sul pela Lei nº 237, de 10 de janeiro de 1925. A solenidade de inauguração do distrito ocorreu em 1º de janeiro de 1926. E em 20 de dezembro de 1961, o distrito passou a ser município. Seu nome “Meleiro” veio a partir da grande quantidade de mel de abelha que havia na região.
Analisando o cenário político da pequena cidade de Meleiro, podemos perceber poucas modificações ao longo dos anos. De 2001 a 2013, quem comandou o município foram prefeitos do Partido Progressista (PP) e após os 12 anos, o atual prefeito Eder Mattos do Partido Liberal (PL) assumiu o cargo, atualmente no seu segundo mandato. No momento, a Câmara de Vereadores, composta por nove representantes, também é majoritariamente formada por membros dos partidos: PSDB, PP, PL e PSD.

É perceptível que há padrões e as ações da população de Curitibanos e Meleiro na época de eleições, principalmente nas municipais; são exemplos de como as pequenas cidades têm suas figuras e partidos políticos de referência e/ou preferência. A comunidade no geral, tendo conhecimento administrativo ou não, atualmente tem a política como um dos maiores tópicos de discussão e análise. Sendo assim, verificam-se opiniões diversas sobre o exercício da cidadania e as vias para o mesmo, como o voto útil, voto ideológico, possíveis reformas, entre outros.
Para o ex-presidente da câmara de vereadores e atual vereador de Meleiro Jonas Ostetto (PP), de 40 anos, há uma grande diferença entre cidades grandes e cidades pequenas, ele confirma: “A diferença é que na cidade grande, hoje, tu tem que ter bastantes cabos eleitorais porque tu não consegue chegar até os eleitores. Já na cidade pequena, como as pessoas te conhecem, elas conhecem seu histórico, na cidade pequena é mais fácil chegar até o eleitor”. Já sobre o processo eleitoral, Jonas cita que “A poluição visual que existia, os santinhos que jogavam, já não existe mais. E também há a mudança de que o povo não está mais engajado na política, a própria juventude já não está mais querendo entrar na política”. E no Meleiro, especificamente, o processo eleitoral mudou em questão da busca de alternância de candidatos.
Em relação à alternância, o vereador relata até mesmo a pequena diferença de votos nas eleições municipais: o primeiro colocado teve apenas cem votos a mais que o terceiro. Isso demonstra que pequenos atos de partidos ou dos próprios políticos podem influenciar fortemente. Pessoalmente, Jonas não acredita em reeleição e acha que os quatro anos de poder poderiam ser estendidos para seis, assim não se fazendo necessária a reeleição, considerando que para ele, os primeiros dois anos são mais para adaptação e defende a busca por subir de cargos, algo que ele mesmo pretende.

Morando em São José há quatro anos, José Machado, de 35 anos, votou pela primeira vez no município. A discrepância mais visível para ele, que anteriormente votou em cidades menores, é semelhante à opinião de Jonas – não saber quem vota em quem: “em cidades menores geralmente se sabe, e além disso há aumento do potencial de violência física e/ou moral. Em grandes centros há uma possibilidade de abertura maior para estudar seus candidatos, não se alienando pela pela ideia dos outros”, diz. Apesar do notório tamanho das campanhas dos candidatos da Grande Florianópolis, José não levou os movimentos locais em consideração para a rota do voto e sim buscou informações por outras vias, já que em sua opinião os debates não deram à população o que deveriam, pois os candidatos não focaram em apresentar as propostas dos temas – dentre os temas, aliás, ele considera a educação o mais importante por ser base para melhores escolhas relacionadas aos demais.

O antes, o durante e o pós eleições


No município de Meleiro, dia 1 de outubro, um dia antes das eleições, houve uma carreata com cerca de 100 carros em prol do candidato à reeleição Jair Bolsonaro, já durante o domingo, dia das eleições presidenciais, o prefeito Eder Mattos (PL) estava presente com uma camiseta que demonstrava apoio ao candidato. É perceptível que a cidade de Meleiro tem sua população voltada ao candidato e o tem como preferência. A maior parte do eleitorado apto a votar na cidade compareceu: 5.312 do total de 5.925, deixando uma porcentagem de abstenção de 10,95%. Durante a apuração dos votos, foram soltos fogos de artifício e realizadas festas nas praças da cidade.


Em Curitibanos, as eleições deixaram a cidade agitada e com trânsito confuso nas localidades próximas aos colégios eleitorais, pois muitas vias foram fechadas para policiamento, tanto da Polícia Militar, como da Polícia Civil. Nos locais de votação, a parcela de cidadãos vestidos de verde e amarelo e peças que demonstravam apoio ao candidato Jair Bolsonaro foi majoritária, inclusive de figuras políticas do município, como a vice-prefeita Daiane Viana Popinhak (PSD). Vale citar a observação feita por muitos eleitores das filas grandes e demoradas em algumas seções, enquanto em outras não havia ninguém sequer entrando nas salas. No entanto, o funcionamento das urnas eletrônicas ocorreu bem e foi possível até mesmo cadastrar a biometria dos votantes que ainda não tinham feito devido ao cenário da pandemia, assim facilitando para as próximas votações.

No município do contestado, não houve nenhuma ocorrência referente a crimes eleitorais ou relacionados. A maior parte da população aproveitou o dia ensolarado para votar – embora a abstenção tenha chegado a 26,18% – e passear pelo centro da cidade, enquanto as outras partes se mantiveram pacatas, até mesmo durante o período de apuração. Esse cenário só mudou no momento em que a contagem das urnas de Santa Catarina finalizou e Nilso Berlanda, curitibanense dono do Grupo Berlanda, foi reeleito deputado estadual pelo Partido Liberal (PL) com 41.488 votos. A partir das 21 horas, então, houve queimas de fogos de artifício e carreatas em celebração ao feito do empresário.


A democracia une todas as idades
A Constituição de 1988 estabelece categorias de eleitorado para definir os votos obrigatório e facultativo. Assim, maiores de 18 anos devem votar, já analfabetos e os maiores de 70 anos, bem como maiores de 16 e menores de 18 anos, podem optar.
A jovem curitibanense Luísa Dorigon, de 17 anos, é um exemplo. Votando pela primeira vez esse ano, se diz motivada por pensar em um futuro melhor através da democracia. Considerando que seu primeiro voto será em um período conturbado da política brasileira, Luísa está ansiosa pelos resultados das eleições. Para ela, que acompanhou os debates, a educação pode ser considerada o item mais importante a ser discutido: “É o que faz o país crescer, a educação transforma o mundo e dá oportunidade para pessoas crescerem na vida. Um país sem educação não vai para frente”, declarou a estudante, incluindo o tópico também no processo de escolha de um candidato, quando se baseia principalmente nas políticas do mesmo voltadas à saúde, educação e ao fim da corrupção.
Clementina Perin Kellet, 88 anos, exerce seu direito de voto em todas as eleições que pôde participar desde quando completou 18 anos, em 1952. Já tendo votado em grandes centros como Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, Clementina vota em Curitibanos há mais de 50 anos e para ela, a mudança do processo eleitoral de cédulas para urna eletrônica foi um facilitador. Quando perguntada sobre a propaganda política e escolha dos candidatos, ela responde que acompanhou o horário eleitoral obrigatório pela televisão, assim como os debates e a opinião dos familiares também foi importante para formular seus votos. De acordo com Clementina, “saúde e fim da corrupção são assuntos que os candidatos devem criar e expressar bons planos sobre”, assim como são motivações para ela continuar votando até quando se sentir capaz fisicamente, mesmo já não sendo uma obrigação.

Para Zeni Prudência Piazza Ronchi, de 69 anos, que votou pela primeira vez em 1974 em Meleiro e continua votando na mesma cidade, o exercício da democracia é indispensável, de acordo com Zeni: “Enquanto eu estiver em condições físicas e mentais, irei continuar exercendo a democracia e votando, acredito que isso é muito importante para o Brasil” quando perguntada sobre as mudanças nos processos de votação ao longo dos anos, Zeni diz que: “Uma vez, os processos eleitorais aconteciam com cédula eleitoral (papel) e agora é a urna eletrônica. Eu acredito que a urna eletrônica seja mais segura, por mais que escutamos nas mídias sociais que não seja tão segura assim. E outra são os santinhos espalhados pela cidade e os cartazes espalhados, e hoje com a proibição, em época de eleição a cidade fica mais limpa”.

Independentemente de onde e por quem é feito, o exercício da democracia é essencial para a formação de um país que atenda devidamente as necessidades do seu povo. Os resultados não dependem apenas dos grandes centros e, por isso, se faz imprescindível o voto consciente.