A chuva incessante que abriu a manhã de quarta-feira (07) não impediu a multidão de prestigiar o desfile cívico-militar da Independência do Brasil, que ocorreu na Avenida Beira Mar Continental, em Florianópolis. Além dos que foram comemorar o evento, muitos aproveitaram a simbologia do Sete de Setembro para manifestar politicamente seu apoio ou repúdio ao atual governo do país, ou reivindicar direitos sociais.
A celebração cívica contou com autoridades das forças de Segurança do Estado, alunos de colégios militares e entidades civis organizadas, que iniciaram as apresentações por volta das 9h da manhã percorrendo a avenida. De acordo com a Polícia Militar de Santa Catarina, o evento tem por finalidade despertar o sentimento patriótico na população e integrar os órgãos públicos, as entidades, os segmentos escolares e a comunidade em geral.
Além de retratar o bicentenário da independência do Brasil, o evento é o primeiro após dois anos de pandemia, uma vez que, devido às restrições que a COVID-19 exigia, não foi possível realizar comemorações de grandes proporções em 2020 e 2021.
“Depois de um momento tão difícil, vivido por todos nós, que foi a pandemia, com muita felicidade voltamos às ruas para enaltecer a nossa Pátria. Isso nos dá um sentimento de pertencimento, de igualdade e de fraternidade”, afirma o Centro de Comunicação Social da Polícia Militar de Santa Catarina.
Após o desfile, manifestantes se reuniram em outros pontos da Capital para declarar apoio ao presidente Jair Bolsonaro ou reivindicar causas de cunho político e social. Candidatos dos mais diversos cargos, que competem às eleições de 2022, também estiveram presentes.
Desde 2018, quando Bolsonaro passou a ocupar a Presidência da República, manifestações relacionadas às cores da bandeira do Brasil se tornaram cada vez mais frequentes. O presidente, que se diz patriota, aproveitou a data para incentivar movimentos a favor de sua reeleição, e participou de atos em Brasília e no Rio de Janeiro.
Movimento pró governo Bolsonaro
Usando vestimentas nas cores verde e amarelo e balançando a bandeira do país, os apoiadores de Jair Messias Bolsonaro (PL) foram às ruas do Centro de Florianópolis. O movimento foi divulgado por meio de redes sociais, como Instagram e Facebook, e também via grupos de Whatsapp.
Segundo o administrador do Instagram: Direita Santa Catarina (@direitasc), o ato contou com cerca de 25 mil pessoas, que se posicionaram a favor da liberdade e pediram por eleições limpas. Os participantes declaram apoio ao presidente, pois, ainda conforme o administrador da rede, Jair Bolsonaro defende as mesmas bandeiras pelas quais reivindicam.
“A escolha de ir às ruas no feriado da independência foi devido ao simbolismo da data, representa um momento histórico, a ‘libertação’ que o Brasil teve de Portugal.”
Via Instagram @direitasc
Ato a favor do governo Bolsonaro, que ocorreu no feriado de Sete de Setembro, na Beira Mar Norte, Florianópolis | Reprodução: Instagram | @vempradireita.floripa
Na visão do jornalista e comentarista político Roberto Azevedo, os apoiadores foram às ruas atendendo ao chamado do presidente. Atualmente, no Sete de Setembro, as manifestações partidárias ideológicas ganharam uma proporção, que não possuíam anos antes do governo Bolsonaro. “O feriado era comemorado como uma data cívica. Víamos alguns grupos políticos se valendo da simbologia para subir em palanques e estar junto ao poder, agora presenciamos de maneira mais explícita, a partir de 2018, até porque o presidente da república chama para os eventos nacionalistas.”, pontua Azevedo.
Para o jornalista, além das manifestações e da relação da data com partidos e política, o Sete de Setembro ainda agrada muitos brasileiros e faz parte de uma memória afetiva. “Meu avô me levava para ver o desfile quando eu era um garotinho e eu ia feliz da vida, então quando pude desfilar foi fantástico”, ele comenta.
Movimento Grito dos Excluídos
Os participantes do movimento ‘Grito dos Excluídos’ se concentraram no Terminal Cidade, ou Terminal Velho, como é conhecido popularmente pelos moradores da Ilha, para reivindicar causas sociais, relacionadas à educação e democracia, levantando questões a partir do tema: “(In)dependência para quem?”
O ‘Grito’ é uma manifestação popular que integra pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas coletivas. O movimento não inicia no Sete de Setembro, mas na data questionam os padrões de independência do povo brasileiro.
Imagens: Twitter Unidade Popular (UP80BR)
Segundo a articuladora das pastorais sociais e participante, Juliana Kades, o ato não é um evento, mas um processo de reflexão e construção coletiva, que ocorre durante todo o ano. Além da caminhada nas ruas de Florianópolis, também ocorreram rodas de conversas e encontros dos integrantes para discutir questões sociais que afetam grande parte dos brasileiros.
Na perspectiva do jornalista Roberto Azevedo, não houve uma manifestação declarada da esquerda, e sim movimentos sociais e entidades que saíram às ruas para reivindicar, o que pode estar relacionado a uma tentativa de evitar confronto entre os dois lados. “Foi uma jogada inteligente, a gente sabe que existem radicais de ambos os lados, tanto na extrema esquerda quanto na direita. Nas últimas duas décadas, o ‘Grito’ é um movimento tradicional. Claro que haviam partidos e candidatos envolvidos no movimento, mas não chegou a ter uma manifestação declarada da esquerda”, comenta o jornalista.