O ano de 2020 mesmo marcado pela pandemia do coronavírus, também será palco das eleições municipais por todo o país. As campanhas começaram no fim de setembro, e contaram com forte presença no meio digital, ampliada devido à pandemia. Como de costume, as coligações e alianças entre partidos e candidatos variam muito entre si e são únicas em cada municípios.
O município de Palhoça, em Santa Catarina, tem o oitavo maior número de eleitores do estado e contará com sete candidatos. Para analisar como a influência da eleição se desdobra pelas periferias do município, o Fato&Versão fez uma análise local no bairro da Pinheira, mais conhecido como a Praia da Pinheira.
É visível em alguns moradores um sentimento de que a prefeitura de Palhoça muitas vezes despreza e ignora a comunidade, já que esta é localizada depois do Morro dos Cavalos, distante do centro. Ao menos é isso que Cláudio Israel Ribeiro, o Tuco, pensa:
“Sabe o posto de saúde? Tudo ali chega depois, é tudo mais demorado, a prefeitura sempre põe por último as reivindicações daqui. Digo porque tenho amigo enfermeiro que já trabalhou ali e sabe disso, ano passado as vacinas do H1N1 para os idosos chegaram no final de junho. Não adianta tomar a vacina no inverno, tem que ser lá por abril pra fazer efeito.”
Pescador, pintor e morador da Pinheira há mais de 20 anos, ele conta que as eleições para a comunidade, tempos atrás, serviam somente para os moradores conseguirem “uns quilos de farinha” ou “um fardo de telha”. Agora, segundo ele, nem mais para isso é serve. “Os candidatos vinham aqui e entregavam sacos de farinha de mandioca para os moradores, comprando voto mesmo, ou era um fardo de telha ou uma tarrafa nova, cansei de ver isso. Pergunta se eles melhoraram a infraestrutura daqui? Nada, ninguém se importa.”
Outro morador local, Odair Espíndola, o Dino, pescador e jardineiro de 53 anos de idade, diz que já viu muitas brigas por causa das eleições. Há mais ou menos 20, seu pai brigou com o tio por ele não gostar de um candidato. “Aquilo deu um balaio de gato na família”, conta. Segundo Dino, o candidato havia ganhado a simpatia de parte da família por meio da doação de cestas básicas e ajuda na manutenção do barco que seu pai e amigos usavam para a pesca. “Agora tu pensa, brigar com o teu irmão por causa de um cara que te trata como um miserável e não faz nada pra ti em quatro anos lá na prefeitura. Eu cresci vendo isso, por isso que eu perdi a fé.”
Após apresentar sua visão geral da questão eleitoral local, quando questionado sobre suas visões políticas de maneira mais abrangente, Dino é sincero: “Votei no Bolsonaro para presidente porque achei que era a melhor opção, não saio no tapa para defender político, seja ele qual for.
Deixando claro que não tem um candidato para as eleições municipais, ele conclui dizendo que a política do Congresso Nacional é diferente da que se faz pela região, comentando que os moradores na hora de votar não se importam com esta: “Votavam no Ronério e em outros porque eles vinham aqui, bebiam no bar, puxavam rede e falavam com o povo.”
Dino também diz que seu pensamento não é isolado e que muitos outros moradores compartilham tal visão.
Marlene dos Santos, de 62 anos que trabalha com artesanatos e aviamentos, pensa parecido. Ela comenta sobre um histórico marcante: “Eu votei no Ronério duas vezes, meu filho que mora em São José não gosta dele por causa do loteamento que ele aprovou e depois travou a obra do contorno viário.”
Ela cresceu escutando candidatos falando que iam fazer algo pela comunidade, mas as palavras quase nunca se concretizavam: “A gente sabe que corrupção é o que mais tem na política, mas quando um aparece por aqui e constrói um posto de saúde que já me socorreu mais de uma vez, a gente prefere ele do que os outros que só roubam e não fazem nada.”
Ela afirma que já votou no ex-presidente Lula, mas que na última eleição votou no Bolsonaro, por influência de familiares e amigos, e por estar “cansada da velha politicagem”, no qual já não tem mais paciência de acompanhar, e que agora não espera mais “nada de bom” que venha do presidente.
Para as municipais que estão a caminho, Marlene finaliza dizendo que vai analisar os candidatos e votar naquele que julgar ser merecedor: “Tem que se votar naquele que está disposto a fazer algo por nós, nem que seja o mínimo, porque, infelizmente, na política quase todo mundo é sujo, então aquele que se diferencia dos que não fazem nada é sempre a melhor opção. Se ele não ganhar, ganha outro pior.”
Frente a esse período de eleições e pandemia, para as comunidades periféricas de alguns municípios, a questão da saúde pode ser algo que pese bastante. Parte dos moradores da praia da Pinheira tem como regra desconfiar da prefeitura de Palhoça por anos, a questão da saúde parece ser sempre decisiva em meio a uma posição na política municipal.