“A tainha é leviana”, diz pescador da Pinheira há mais de 30 anos

A praia da Pinheira é, junto de muitas outras que se espalham pela região da Grande Florianópolis, conhecida por ter o funcionamento comunitário em grande parte orientado para as atividades pesqueiras. A pesca artesanal da tainha, por exemplo, sempre ocorre entre os meses de maio e julho e vem sendo uma das mais esperadas fontes de renda entre os pescadores. Ainda assim, a pesca continua como atividade de subsistência o ano todo.

Barcos de cerco na Praia de Baixo.

Estes pescadores geralmente utilizam barcos a motor nos cercos, mas o uso de canoas típicas também está presente. Entre os peixes mais cobiçados, está – ele mesmo – a Tainha. O entrevistado do Fato&Versão, Nivaldo Silva, o Badinho, pescador há mais de 30 anos, fala a respeito dos peixes, da pesca e das atividades de subsistência que giram em torno destes.

A Tainha é um peixe considerado difícil de se conseguir? Vocês a pescam o ano todo?

Tainha é um nome popular que se dá para uma série de peixes que fazem parte de uma só grande família. Por exemplo: tem a tainha anã, branca, curimã e assim vai. Elas são peixes que fazem migração.  Elas saem geralmente do Rio da Prata no Uruguai e na Argentina e passam aqui pelo nosso litoral nos meses de maio, junho, julho e agosto. Por isso, a pesca artesanal acontece nesses meses. 

E como tem sido o ano com pandemia para vocês que dependem da pesca para sobreviver?

Neste ano, a pandemia nos forçou a usar máscaras e álcool gel, e isso se tornou parte do cotidiano dos pescadores. No Estado, neste ano, mais de 500 toneladas de Tainha foram pegas.  Aqui na Pinheira foram mais de 30 mil, a Colônia (dos Pescadores) confirmou esse número semana passada. A temporada foi muito boa.  Eu sou membro da Colônia há mais de 30 anos e, nesses últimos dois anos, se pegássemos 15 mil já estava de bom tamanho.  Temporada melhor do que essa acho que só em 2008, quando pegaram mais de 50 mil. 

Houve algum impacto negativo? 

Teve, sim. No começo, esse aumento caiu como um milagre porque no mês de abril tava tudo dando errado pra gente, alguns dos negócios locais pararam de trabalhar e outros faliram,  como foi o caso da Peixaria Biano.  O Bar do Passarinho, outro cliente nosso antigo, também fechou.  

A safra foi mais voltada para o comércio local ou de fora?

De lucro nativo aqui naqueles primeiros meses foi complicado, a gente ficava levando em balde pros restaurantes e mercadinhos da região. Os restaurantes grandes de fora decidiram não comprar em excesso para evitar prejuízos. Mas é aquela coisa:  como a safra foi boa, um parceiro da Peixaria da Passagem nos ajudou com o transporte, junto com o Supermercado Santos, aí a gente conseguiu vender pra fora já que tinha muita gente interessada.

Qual a reação frente ao sucesso aparente que foi essa safra?

Foi grande, algumas semanas antes de começar os arrastões e cercos maiores os nossos olheiros já estavam lá na pedra da vigia atentos a um maior movimento na ondulação do mar. A tainha é leviana – ela pode ir tanto para um lado como pode ir para o outro quando entra aqui na barra.  Por isso, tem que tá sempre bem atento se ela estiver só passando ou entrando na praia mesmo.

E a respeito das aglomerações? Não eram uma preocupação grande?

Sim, nesses grandes arrastões, mesmo todos estando de máscaras e com o bloqueio feito no início da praia com o apoio da prefeitura, onde a entrada só foi permitida para os pescadores e o apoio. Não houve como respeitar o isolamento social ali na hora do “saragaço”. 

O senhor ainda depende do dinheiro que vem da pesca todo o ano?

Não mais, eu tô aposentado, já fui mestre de barco por muitos anos, andei por todo o litoral aqui de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Eu vou na praia só pra ver os amigos, ajudar quando precisa e pegar um peixinho pra fazer no almoço. Mas, agora, eu to no grupo de risco; As minhas filhas pediram pra eu não ir nos arrastões neste ano.

Pescadores e colaboradores arrastam a rede até o caminhão.
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