“O cara que nunca fez nada por uma comunidade vir com o papo de salvar o planeta? Se conseguir salvar a rua dele já é alguma coisa”.
O gestor ambiental Leonardo Quint chama a atenção para buscar a sustentabilidade local, melhorando a relação das pessoas com o meio ambiente.

Com o confinamento tem sido produzido uma quantidade ainda maior de lixo, por isso, da importância de ampliar a compreensão e a discussão sobre os impactos que temos causado ao meio ambiente. E, principalmente, entender como somos atores dentro deste contexto. Foi pensando nisso que convidamos Leonardo, que atua na região de Palhoça, para uma conversa sobre esses aspectos.
Como você começou a atuar mais efetivamente na causa?
Eu e mais uns cinco colegas, há aproximadamente 3 anos, resolvemos iniciar um movimento com o objetivo principal de tentar mudar a política de resíduos sólidos aqui da região. O município não tem coleta seletiva e também é bem carente na questão de saneamento básico. Apenas 10% dos habitantes têm acesso à rede coletora de esgoto e isso é bem alarmante. Já em 2018 a gente fez uma primeira ação e conseguimos tirar 1 tonelada de resíduos da orla da Praia do Sonho.
A inclusão dos jovens é importante?
Faz uma diferença enorme ter noção básica desde os primeiros anos de vida. Quando fala em meio ambiente, não é só saber destinar o lixo, saber plantar uma árvore, que não pode devastar uma floresta, é uma coisa muito mais abrangente. É noção de civilidade, de cidadania e esse é o único caminho. A política nacional de educação ambiental deveria ser mais incluída na grade curricular. Hoje é muito deficitário e acredito que isso não é culpa dos professores, mas sim de um sistema que não aborda por falta de interesses diversos.
Como é a atuação do poder público?
Trabalhei na Assembléia Legislativa do Estado durante 6 meses, conheci a fundo como a máquina funciona. E recurso tem, posso cravar pra ti que 80% da problemática de comunidade e da sociedade relacionada a meio ambiente poderia ser resolvido com boa vontade. As coisas não andam mesmo por uma série de fatores que são inerentes à grana. A ONG é um modelo, um mecanismo que poderia ter força pra fazer muito mais coisa do que o próprio Estado ou do que a própria iniciativa privada.

Qual a sua visão sobre o atual governo, com as leis que facilitam cada vez mais o desmatamento?
Eu gosto de uma frase que deveria ser adequada para todo cidadão que diz querer ser um ambientalista: “Eu ajo localmente, para impactar globalmente”. Tá ruim na Amazônia, tá ruim no Nordeste, tá ruim em vários locais. Mas como é que tá minha cidade? Como é que tá o saneamento básico da minha cidade? Como é que estão as áreas de preservação?
Então tento fazer o meu, na minha comunidade. Não tô dizendo que o que tá rolando na Amazônia, ou no resto do país, não seja importante. Pelo contrário, seria um crime eu falar isso. Só que quando me torno um agente transformador, quando sou um cara que tô fazendo alguma coisa aqui, por menor que seja, vou tá impactando um vizinho. O vizinho impacta outro vizinho e daqui a pouco a gente tem uma rua bacana, limpa, organizada, com bastante árvore e assim o outro bairro.
E quais ações têm funcionado?
A gente em breve vai estar adotando um modelo de gestão de ação ambiental que é zero aterro. Ou seja, 0% de resíduo vai para o aterro sanitário, desde uma tampa de garrafa, até um colchão que tava boiando no mar. E tem também a possibilidade econômica disso, porque a gente tá enterrando bilhões de reais por ano só por não direcionar o lixo. Porque o lixo só é lixo quando ele é todo misturado, simples assim.
O que esperar dos próximos 10 anos?
As crianças têm nascido cada vez mais antenadas com o meio ambiente e a sustentabilidade. Não gosto muito de falar em salvar o planeta. Acho isso meio utópico. O cara que nunca fez nada por uma comunidade, vir com o papo de salvar o planeta, se conseguir salvar a rua dele já é alguma coisa. Então penso que essa geração vai fazer a diferença. Educação vai transformar muita gente ainda. E outra coisa, teoria é super importante, educação é super importante, mas o laboratório vivo, tu estar demonstrando com ação é uma coisa que transforma. E tem uma frase que é: “a palavra convence, mas só o exemplo arrasta”.
