Quarentena longe de casa: história de catarinenses na Europa

A passeio ou a estudo, conheça casos de catarinenses que estavam na Europa quando a situação de emergência foi decretada.

Se estar com a família durante o período de quarentena já é difícil, imagina enfrentar essa pandemia em outro continente? É o caso da palhocense Karine Iris Rosa, que estava em Londres quando as notícias começaram a ficar preocupantes. Ela e os amigos aproveitaram para voltar à Lisboa, já que nem todos os voos estavam cancelados. “Ficamos muito aflitos, com medo de ficarmos retidos sem conseguir voltar para casa”, conta Karine. Em Portugal, já são mais de 29.912 casos confirmados do novo coronavírus (Covid-19), totalizando até agora 1.277 mortes. As medidas de enfrentamento ao vírus foram bem restritivas no país, que tem sido um dos mais bem sucedidos no continente em lidar com a pandemia, e agora começa a reabrir atividades.

A prioridade, em Portugal, assim como no Brasil, é dada a profissionais de saúde e funcionários de serviços essenciais, por exemplo, mercados e farmácias. Por se tratar de um país com 30% da população com mais de 60 anos, o decreto que fechou atividades também permitia curtos passeios com cães e realização de exercícios físicos ao ar livre para até duas pessoas. Antes do início da reabertura, as regras eram ainda mais rigorosas. “Nos pontos turísticos, a polícia está multando quem estiver apenas passeando”, destaca. “Sabemos que esta causa têm um valor importante, o da proteção da vida de todos os que estão hoje ameaçados pela pandemia que atingiu o país, a Europa e o mundo”, disse Ana Catarina Mendes, líder da bancada parlamentar do Partido Socialista.

Dados atualizados em 20 de maio de 2020 | Rastreador do coronavírus do Bing da Microsoft

Embora a vontade de voltar ao Brasil seja grande, as companhias aéreas não têm como garantir que é possível voltar. Segundo Karine, existem poucos voos disponíveis e estes sempre muito lotados ou com preços altíssimos. “Nós fomos atrás do Consulado, da Embaixada e da própria companhia. Pouco retorno temos desses órgãos. A Embaixada, por exemplo, só traz respostas padronizadas e vários formulários para preenchermos”, lamenta. Quem compartilha da mesma situação de Karine é o Mateus Rossi, natural de Criciúma, que também está na capital portuguesa. Seu retorno ao Brasil estava marcado para 24 de abril, porém foi cancelado pela companhia aérea Latam. “Centenas de brasileiros estão passando pela mesma situação, largados à própria sorte, e pagando do próprio bolso as despesas”, destaca Mateus.

Com passagem em mãos, Mateus conseguiu voltar ao Brasil no sábado (27), mas admite que vai buscar seus direitos como consumidor. “Vamos reaver o prejuízo e os transtornos causados pela Latam. A rota Lisboa – São Paulo não foi afetada pelo coronavírus, foi decisão da empresa aérea por motivos comerciais, lesando e deixando abandonados muitos passageiros”, explica. “Ninguém tem condições de se manter num país estrangeiro em quarentena por tanto tempo”. Foi assim que terminou a conversa com Karine, que aguarda a situação normalizar para alcançar aquilo que Mateus conseguiu: voltar para a casa. 

A sorte de quem conseguiu voltar

Para alguns, a história é diferente. Maria Júlia da Silva Goulart mora em Tubarão e desde o fim de fevereiro estava em Malta, país localizado entre a Itália, Grécia e o norte da África. “A minha pretensão era passar um mês lá estudando inglês. Mas os planos acabaram sofrendo inúmeros imprevistos”, explica a jornalista da Unisul TV. No dia 12 de março, a escola em que ela estudava anunciou que ficaria fechada por tempo indeterminado e o governo recomendou que todas as pessoas que tivessem chegado no país pela Itália deveriam entrar em quarentena. “Quando o governador de Santa Catarina anunciou a quarentena, eu já estava vivendo o caos em Malta. Avisei meus familiares e amigos próximos para que evitassem aglomerações e saíssem de casa somente para cumprir tarefas inadiáveis”, acrescenta. 

Maria Júlia | Foto: Arquivo pessoal

Ainda em Malta, Maria Júlia via de perto os casos aumentarem e medidas serem tomadas a cada minuto. “Malta é uma ilha, a maior parte da população é idosa. O país não têm estrutura para tratar uma grande demanda de pessoas, existe apenas um hospital de referência. Quando as primeiras medidas foram tomadas, existia cerca de 10 casos confirmados. No dia 24, o número passou de cem e a multa para quem descumprisse a quarentena chegou a 10 mil euros”, enfatiza. No entanto, o governo pediu para quem não fosse natural de Malta, conseguisse uma maneira de voltar ao seu país. “Assim como eu e outros amigos, a saída foi comprar uma nova passagem aérea para vir ao Brasil. No aeroporto, nossos passaportes eram checados a todo instante, para saber se não estávamos em quarentena. Caso estivéssemos, seríamos banidos do voo por segurança”. 

Além disso, na Turquia – uma das poucas fronteiras abertas – Maria Julia e os amigos precisaram responder questionários afirmando não ter sintomas do coronavírus e em quais lugares passaram nos últimos 14 dias. “Passamos 24 horas em Istambul e depois retornamos ao Brasil. Chegando em São Paulo, na noite do dia 21, o choque: nenhum controle era feito no aeroporto”, se espanta. Agora, ela permanece, até o fim da quarentena, isolada dentro de casa. “Só posso ir do meu quarto até o banheiro. Tudo para preservar a vida da minha família”, finaliza Maria Júlia.

*Entrevistas feitas em 28 de março de 2020

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