Escola de São José faz ação inovadora para integrar pais e alunos na quarentena

Espaço Educacional Quintessência teve uma ideia para pais e alunos não perderem o contato com a escola nessa época de quarentena. Criou o Pit Stop da Saudade.

Na primeira semana de maio, o Espaço Educacional Quintessência, de São José, na Grande Florianópolis, resolveu criar uma atividade para que os pais e as crianças não perdessem o contato com a escola nessa época de quarentena. Tudo começou com um certo suspense no Instagram do colégio. As postagens prometiam uma surpresa para entregar aos alunos e uma ação com os pais e as crianças para reduzir a saudade, com o afastamento que já tinha ido além dos dias previstos no começo da quarentena. A escola de Educação infantil e Fundamental I, que atende crianças de zero a 6 anos de idade, tão acostumada ao contato com os alunos, a aproveitar seu espaço físico com árvores no pátio e uma ampla construção térrea, precisou se reinventar para manter a relação com as famílias. E fez isso buscando soluções dentro da prática que já acredita e realiza. E o resultado foi um passeio seguro das crianças pelo pátio da escola, no carro da família, ganhando abraços de papel e revendo as professoras. Era o Pit Stop da Saudade.

Andreza Petropolos, professora e proprietária da escola, conta que o Espaço Educacional Quintessência foge dos padrões tradicionais. Segundo Andreza, a escola preza pela proximidade com as famílias, pois formam a comunidade escolar. No período de aula, as famílias têm acesso livre ao interior da escola e a todos os colaboradores. “Por sermos diferentes, não poderíamos descartar tudo o que defendemos e praticamos sobre a educação para passarmos por esse período”, explica Andreza. 

Antes do fechamento da escola por causa da quarentena, a Quintessência enviou para as crianças um kit com dicas e brincadeiras, jogos, palavras cruzadas e até brinquedos que elas gostavam para estabelecer um elo com as famílias. O retorno das aulas estava previsto para o dia 20 de abril e a escola organizou tudo para esse período. Os gestores pediram que as famílias marcassem o colégio nas postagens para ir acompanhando as crianças nesse período. Porém, com a extensão da quarentena, a equipe teve que se reinventar e pensar do que mais sentia falta. 

A maior dificuldade da escola nesse período foi o fato de não se enquadrar no modelo tradicional pedagógico. Pois, procuram inovar sempre com alta interação com a comunidade escolar. Dessa forma, os professores não enviam os famosos “trabalhinhos” para casa e precisam buscar na essência do que já faziam e acreditavam, algo para propor neste momento à distância. “Tivemos que buscar inspirações nas nossas entranhas, pois nada havia de parecido”, diz Andreza. 

A ideia do Pit Stop da Saudade surgiu quando a equipe começou a receber fotografias e filmagens das crianças expressando como fazia falta estar no chão da escola. “Muitas pediam para colocar o uniforme e assim passavam o dia, como forma de sentir-se pertencentes ao seu grupo”, diz Andreza. As passadas na frente da escola para espiar o lugar também eram constantes. A dona da escola disse que a história mais emocionante foi quando uma mãe contou que parou o carro na frente do portão da escola e desceu com sua filha para observar o pátio. Nesse dia, a mãe explicou à filha que a escola estava fechada e, com tranquilidade, a criança respondeu: “Chama a Deia que ela abre o portão”.  A “Deia” é a recepcionista da escola.

O Pit Stop virou atividade e aconteceu então no pátio da escola. Os pais entravam com o carro e davam a volta no pátio. Nesse trajeto, o veículo era abraçado pelas professoras e por Andreza com longos braços feitos em TNT e com luvas cheias de folhas secas. Elas colavam adesivo no coração no carro, acenavam e jogavam beijo para as crianças. Algumas traziam até irmãos junto para participar da atividade. 

Ninguém abria os vidros, nem saía do carro para seguir as medidas de segurança durante a pandemia. Todas as professoras estavam com máscaras, luvas e mantinham o distanciamento recomendado entre as famílias e os educadores. O Pit Stop da Saudade dava direito a dois adesivos preparados pela escola, de papel contact, em forma de coração. No final do passeio pelo pátio da escola, que têm árvores e espaço, as crianças recebiam uma “sacola mágica” que continha alguns elementos da escola. Elas levaram para casa folhas secas das árvores do colégio, um potinho com areia da caixa de areia, folhas de papel colorido para as crianças fazerem o que desejassem, bandeirinhas de papel e fotos para formarem o varal da saudade, cola colorida, uma mensagem e um abraço de papel para pôr sobre os ombros.

Foto: Desenho feito por uma das crianças sobre o dia do Pit Stop

Andreza conta que o dia foi de muita emoção e todos que passaram, saíram com um sorriso no rosto, o coração aquecido e olhos cheios de lágrimas. “Estar novamente no nosso chão foi uma sensação incrível”, disse ela. Uma das crianças fez um desenho, representando o abraço que ganhou no dia do Pit Stop e mandou um áudio para professora dizendo: “Eu adoro você”. 

A  família de Ana Paula Gonçalves, mãe da pequena Olívia, de 2 anos, participou da atividade. A filha estuda no Quintessência há dois anos. Mas a mãe não imaginou que seria algo tão emocionante. Eles chegaram no pátio da escola, estacionaram e esperam o portão abrir. Ana Paula, nesse momento, já estava emocionada. “Quando a gente viu as professoras, elas ali, todos de máscaras vendo a reação pelos olhos. Ver tudo que elas prepararam para gente, uma coisa tão simples, uma sacolinha com atividades dentro, e braços para abraçar o carro feito de TNT.  Realmente fiquei muito impactada”. O filho mais velho tem 7 anos e não estuda no colégio, mas participa da rotina da irmã Olívia, indo levar e buscar a irmã, também ganhou a sacola mágica. “A sacola tinha coisas muitas significativas, folhas da árvore, giz, brinquedos, fotos dos colegas. Elas são sensacionais”, diz Ana Paula.

Olivia ainda não entende exatamente o que está acontecendo, porque ficou tanto tempo sem ir na escola nem porque só foi dar uma voltinha dentro do carro. “Mas a gente entende. Nos sentimos realmente acarinhados por elas e foi muito especial para nós”, diz a mãe. 

Sobre essa época de quarentena, Ana Paula conta que está sendo um momento delicado. Afinal, são dois filhos pequenos em casa. “As três primeiras semanas até que foram melhores do que eu imaginava, mas agora já são dois meses e está começando a ficar um pouco mais complicado”, contou. A família teve que se reorganizar. “Toda a questão de como mantê-los em ocupação, sem exigir muito deles, está sendo um desafio”. Ela explica que as crianças não têm entendimento do que está acontecendo e isso dificulta a nova rotina. Mas, de maneira geral, a família está se saindo bem. 

A mãe conta que a filha sente saudades da escola e brinca de conversar com as amigas todos os dias. “Pega nosso telefone e liga, contando o que está fazendo na escola”. As imagens do Pit Stop da Saudade foram para as redes sociais da escola para continuar a integração com as famílias e gerando ideias para Andreza e sua equipe.

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