Os “milhões” por trás das lives no Brasil

Com o isolamento decretado, os cantores recorreram as famosas transmissões ao vivo para levar entretenimento aos brasileiros. Um jogo de milhões, seja de espectadores, em arrecadações ou em publicidade.

A chegada da pandemia do coronavírus e a decretação de distanciamento social fez com que inúmeras casas noturnas, bares, eventos, shows e festivais fossem suspensos ou até cancelados. Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Produtores de Eventos (ABRAPE) estima que cerca de 51,9% de todos os eventos que ocorreriam no ano de 2020 já foram cancelados ou estão em situação incerta. Com isso, cerca de 580 mil profissionais da área estão com os empregos ameaçados. Diante da situação, artistas e empresários decidiram levar música para dentro das casas dos brasileiros por meio das transmissões ao vivo, as famosas lives, com intuito de arrecadar fundos para o combate a Covid-19 e também ganhar dinheiro através da publicidade para manter suas equipes. Em pouco tempo, fazer live virou febre no Brasil, desde aquelas feita direto no Instagram gravando pelo celular até produções mais elaboradas, exibidas no Youtube com direito à cenografia, diretor, drones e câmeras de última geração.

Em 29 de março, o cantor Gusttavo Lima fez uma live da sua casa, no interior de Goiânia, que durou mais de cinco horas. Nessa mesma transmissão, o cantor conseguiu quebrar o recorde mundial de maior transmissão ao vivo, com cerca de 750 mil pessoas assistindo simultaneamente. Antes, o título era da cantora Beyoncé, que fez uma transmissão durante sua apresentação no festival Coachella, no ano passado, e reuniu 450 mil pessoas ao mesmo tempo. A partir daí, era recorde em cima de recorde. Os artistas brasileiros conseguiram se superar a cada dia. Logo depois veio a dupla Jorge&Mateus, que quebrou o recorde mais uma vez, com 3,1 milhões de pessoas assistindo simultaneamente. Cerca de três dias depois, era vez das mulheres entrarem no jogo. Marilia Mendonça não brincou em serviço e conseguiu reunir 3,2 milhões de espectadores ao mesmo tempo e fez história no Youtube. Foi a maior live já transmitida na plataforma, além de ter sua transmissão entre os cinco vídeos mais assistidos em 24 horas no mundo inteiro. Um feito para as mulheres e para o Brasil. 

OS MILHÕES 

O objetivo das transmissões ao vivo é, em tese, a arrecadação de dinheiro, alimentos, e produtos para o enfrentamento da pandemia pelas pessoas mais pobres e parte da arrecadação é destinada aos principais hospitais no combate à doença. Juntando apenas as maiores lives feitas até agora, segundo divulgação dos artistas, foram arrecadados cerca de R$ 4.5 milhões de reais e mais de mil toneladas em alimentos, além de máscara e álcool em gel, segundo uma apuração feitas por alguns jornais digitais. 

Como nada é de graça, para organizar um transmissão de alta qualidade e com uma super produção são necessários investimentos altos. E engana-se quem acha que os artistas tiram essa bolada de dinheiro do próprio bolso. As lives são bancadas por anunciantes. Mas tudo tem um preço. Segundo o jornalista Leo Dias, fazer publicidade dentro das transmissões não é nada barato e são poucas as empresas capazes de bancar esse valor. A simples inserção da marca na transmissão custa, em média, R$ 100 mil, merchandising com depoimento, R$ 150 mil, testemunhal e agradecimento: R$ 60 mil. Mídia digital, R$ 80 mil e vídeo de 15 segundos, R$ 100 mil, apurou Leo. Sim, valores absurdamente altos mas para quem pode pagar, o investimento vale a pena. Juntando apenas as 4 maiores lives feitas até agora, os artistas já embolsaram cerca de R$ 1.3 milhões de reais em merchandising, afirma o jornalista. Nada mal né? 

O “LADO B” DAS LIVES


Uma grande produção audiovisual requer profissionais capacitados para ser posto em prática. As lives dos artistas de grande faturamento são mega produções que têm por trás vários profissionais cuidando de tudo. Áudio, iluminação, cenografia, transmissão, limpeza, direção e por aí vai. Produção demais parece ir na contramão das recomendações de distanciamento social do Ministério da Saúde. O assunto gerou polêmica nas redes sociais e foram feitas críticas aos realizadores das lives, especialmente por reunir técnicos demais para realizar as transmissões.

Print de tweets retirado do Twitter

Foi esse mesmo motivo que levou a cantora Anitta a anunciar que não vai fazer nenhuma live durante a quarentena pelo fato de causar aglomerações.

“Muita gente perguntando: não vou fazer live de show. Pra fazer uma live mara eu tenho que chamar equipe, pessoas. Não dá pra fazer uma live maravilhosa com cenário, luz, sem ter uma equipe coordenando isso, com transmissão mara […] Se eu chamar pessoas vão acabar com a minha raça”, comentou a cantora por meio de sua conta no Instagram.

Em comunicado, os artistas afirmaram que estavam presentes nas lives as pessoas estritamente necessárias para a realização da produção e que todas estavam usando  todos os equipamentos de segurança como  luvas e máscaras. A questão é, até que ponto causar aglomeração em prol de arrecadações de fundos para o combate do coronavírus é benéfico? 

Foto: Reprodução/YouTube/Marília Mendonça

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