Por Kamila Melo e Laura Mello
O Catarinense está em pausa. A Festa Nacional do Pinhão, em Lages, foi cancelada. Sem decorações de Páscoa no comércio. Pessoas isoladas. Ruas vazias. Pautas reformuladas. Medo. O novo coronavírus mudou a rotina, as relações, a forma de expressar afeto e o jornalismo, intrínseco e sedento por fatos e entrevistas, precisou se reinventar. Em um momento tão delicado e alarmante, a importância da imprensa é questionada e criticada por lideranças governamentais.
Sem poder parar, muitos jornalistas estão nas ruas fazendo matéria, nos ambientes do Estado entrevistando governantes, falando com as pessoas na porta de hospitais, dentro de UTIs e até nos cemitérios conversando com as famílias de pessoas que morreram de Covid. Outros viram a redação mudar para dentro de casa e a internet virar a principal aliada do profissional que usa a informação para combater a Covid-19. “Me parece que os jornalistas estão sendo bem cuidadosos”, observa Rogério Sobroza de Mello, um dos principais infectologistas na cidade de Tubarão durante a pandemia.
Segundo o médico, ao chegar para ser entrevistado na Unisul TV, percebeu que só estavam no local o jornalista e o cinegrafista. “E fui eu mesmo que segurei o microfone”, complementa. No caso de Rogério foi assim, mas às vezes os repórteres recorrem ao “boom”, aquele microfone geralmente usado para filmes e que é mantido acima das pessoas nas cenas. Na edição do dia 22 de março do Fantástico, por exemplo, observamos uma reportagem em que o repórter entrevista através de um portão.
Os critérios estéticos também se flexibilizaram e permitem mais gravações feitas com smartphones e notebook pelas próprias fontes. A maior parte dos repórteres pede que a resposta para suas perguntas seja enviada à distância, por meio de vídeo ou áudio e alguns usam aplicativos para facilitar as entrevistas. No entanto, ficar entre quatro paredes limita a agilidade no processo de construção da notícia. Para Denise Medeiros, apresentadora na NSC Comunicação, é difícil depender tanto dos entrevistados. “Precisamos da colaboração deles. Às vezes já tínhamos dificuldade em convencer alguém a falar. Imagina agora, em que também pedimos material”, revela.
Com paciência e adaptação, Denise explica que as redações estão enxutas e os profissionais estão fazendo um rodízio. “Cada jornal tem uma equipe presencial e a outra fica no home office”, explica. Na NSC, o editor de vídeo é quem permanece estruturando a reportagem televisiva, após o repórter enviar o roteiro com off (narração), entrevistas e imagens de apoio. Mas existe ainda outro desafio enfrentado pela imprensa. E já não é de agora.
Um alívio em meio a crise: o cuidado e responsabilidade no fazer jornalístico
As notícias falsas ou a minimização da pandemia são problemas que acompanham a doença e muitas vezes são reforçados por cidadãos comuns e autoridades públicas. No começo da crise, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em um discurso em Miami, nos Estados Unidos, declarou que a “questão do Coronavírus” não é “isso tudo” e se tratava de uma “fantasia” propagada pela mídia no mundo todo. As mentiras ou as dúvidas deixam o leitor precisando de espaços de credibilidade e especializados para saber sobre o que está acontecendo. Gean Zanelato, escritor e jornalista do HC Notícias, destaca o papel fundamental do jornalismo nesse contexto. “É um momento em que a polarização política praticamente guia a opinião do leitor e que há muita fake news rolando tanto no Whatsapp como nas outras redes sociais. Então eu me sinto como um profissional muito importante”.
Apesar de perceber que é relevante socialmente, o escritor também sente uma angústia típica dos que não podem se desvincular do que acontece, mesmo que não estejam trabalhando. Afinal, para Gean e outros jornalistas profissionais, existe uma atenção contínua na pandemia, captando tudo aquilo que possa estar acontecendo de significativo para ser noticiado. Se o home office já era presente na vida do escritor antes do isolamento social, em tempos de pandemia sua atenção com as fontes precisou aumentar. Nos especiais que produz, com o intuito de aliviar os leitores, já tão carregados com o peso das notícias diárias, ele diz que tem a preocupação de abordar os acontecimentos “de uma forma mais leve”.
Excelente matéria!
CurtirCurtir