Crônica #4: O 7X1 está parecendo uma gripezinha

Hoje me deparei com uma cena inusitada. Minha mãe e meu pai, um do lado outro, no escuro,  usando óculos, observado a vida em seus celulares. Com fones, riam e prestavam atenção nas telas que iluminavam seus rostos.

Mais  próximos do que o habitual, devido as circunstâncias triviais da vida, ficam presos em seus mundos. Próximos, porém distantes. São poucas as palavras trocadas durante o dia e, quando trocadas, parecem espinhos lançados um no outro. Como se estivessem disputando para ver  quem grita de dor primeiro. Espinhos de muitos anos de idade, pois só de casamento são mais de 30. Histórias não resolvidas, histórias não tocadas.

Fico imaginando em outras casas, outros lares, as diversas situações que esta quarentena nos impôs. Não como justificativa para abandonar as paredes que chamamos de casa, mas penso nas mulheres sendo surradas pelo maridos neste momento. Forçadas a ter relações sexuais sem consentimento, descabeladas, com cicatrizes no rosto, sem forças para gritar, ou até já acostumadas.

Também penso naquela mulher que tem quatro filhos que mora na casa de dois cômodos. Dela eu ouvi muitas histórias. Todo mundo fala dessa mulher, mas ninguém a ajuda. Essa quarentena é cheia de histórias, mas de poucas ações. Falamos, falamos e de nada adianta. O Brasil só muda quando o brasileiro mudar, só que ninguém está querendo mudar, só falar. 

Ontem mesmo a população sofreu mais uma derrota. O 7 a 1 que sofremos da Alemanha está parecendo uma gripezinha. O ministro da Saúde, o único sensato num amontoado governamental de cínicos, foi demitido. Utilizando da coerência, da informação e da ciência foi julgado como culpado. E agora? Será que vão chamar o Chapolin Colorado? 

Não tenho nem mais saliva para discutir. Ou dedos para digitar. O tanto que falamos parece não funcionar. Já perdi a esperança no brasileiro, seja no que está de camisa do Brasil, de preto ou de vermelho. Já cansei de ouvir tanta gritaria, violência ou discussão. Sei que me abster não é uma opção. Espero que o brasileiro acorde quando as coisas piorarem. Torço para ser tudo uma enganação e, como os mesmos brasileiros dizem, apenas uma criação. Seja da China, das Arábias  ou do Paquistão. 

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1 comentário Adicione o seu

  1. Tatianices disse:

    Parabéns pelo texto. Muito tocante e reflexivo

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