Com o avanço da tecnologia e o acesso na palma da mão, os crimes virtuais estão mais constantes do que a gente imagina. Nessa matéria, vamos falar de um golpe muito específico e que tem causado uma dor de cabeça enorme para as vítimas. Na verdade, as vítimas são os contatos do Whatsapp da pessoa que teve seu aplicativo sequestrado. 

Como acontece?

Depois de você expor seu número em algum lugar (sites fraudulentos, sites de compra e venda, grupos do Facebook, entre outros) a pessoa consegue pegar o acesso do seu Whatsapp através de outro celular. 

Para isso, ela precisa de um código que o Whatsapp manda para o seu número de celular (chip) via SMS. 

Esse código só você tem acesso. Portanto, para que consigam acessá-lo, eles ligam diretamente para você ou tentam outros meios. 

CUIDADO: são utilizados técnicas de telemarketing.

Após conseguirem o código por algum meio, você perde totalmente o acesso do Whatsapp no seu dispositivo.

O crime acontece a partir daqui:

Já no seu Whatsapp, eles têm acesso a todas as suas conversas. NÃO AOS SEUS CONTATOS. Portanto, o sequestrador vai começar a pedir dinheiro emprestado para todas as pessoas que você manteve contato e têm a conversa salva no aplicativo se passando por você.

Os valores têm variado de R$1000,00 a R$5000,00, normalmente pedindo um valor mais alto primeiro e depois baixando a proposta na medida em que a pessoa recusa ou diz que não tem o valor inicial para emprestar.

TOME CUIDADO AO FAZER TRANSFERÊNCIAS PARA CONTAS DESCONHECIDAS E SEMPRE VERIFIQUE OS DADOS. O GOLPISTA NÃO PEDE DINHEIRO PARA A CONTA DA PESSOA QUE TEVE O WHATSAPP SEQUESTRADO. PEDE PARA UM TERCEIRO QUE VOCÊ NÃO CONHECE.

Transferi o dinheiro! E agora?

Primeiramente, boa sorte. Pois a jornada para recuperar o dinheiro é longa e desgastante. 

A princípio você tem que torcer para que os sequestradores não tenham sacado ainda o valor. Após sacado, você não tem o que fazer.

Mas, o primeiro passo antes de ir ao seu banco é ir até uma delegacia de polícia, a mais próxima possível, para registrar um Boletim de Ocorrência (BO). Se conseguir levar o dono do Whatsapp roubado, é melhor para que a investigação em uma delegacia especializada tenha mais dados. Leve RG, CPF, número de sua conta anexada à conta do sequestrador, celular com a conversa (NÃO APAGUE!) e realize o B.O.

Com o boletim em mãos, você vai até o seu banco e lá você vai ser guiado a um gerente. 

Explique o que aconteceu e mostre o boletim de ocorrência. 

O modo mais fácil de você ter o seu dinheiro de volta é se o  ainda não foi sacado e se a conta estiver bloqueada. Será necessário abrir um protocolo de cancelamento da operação, que.  pode levar até um mês para você recuperar seu dinheiro. 

Isso se a conta do sequestrador permanecer bloqueada e não fizeram nenhum tipo de movimentação com seu dinheiro. Caso contrário, a operação não vai ser realizada e você não vai conseguir recuperar o seu dinheiro. Ou terá que encontrar outras maneiras legais para exigir o dinheiro de volta.

Como recuperar o Whatsapp?

Se o sequestrador não mexeu nas configurações do Whatsapp, você pede um novo código, que será enviado para o celular que contém o chip. Quando o código chega, ele é novamente inserido e o Watsapp volta para o celular original. Agora, seu sequestrador cria uma verificação em duas etapas quando estiver de posse do seu Whatsapp, a coisa complica. Para você recuperar o acesso, seria necessário incluir, além do código novo enviado pelo aplicativo, a inserção de um PIN que, neste caso, foi criado pelo sequestrador. Como você não tem esse número que foi criado e inserido pelo ladrão, você precisará recuperá-lo de alguma forma. Mas também é impossível sem ter acesso ao e-mail que ele cadastrou na verificação por duas etapas. 

Então, você vai recuperar o seu Whatsapp, mas isso levará sete dias. A parte boa é que, até lá, o seu aplicativo estará bloqueado para você e para o sequestrador. Você mesmo causará o bloqueio quando tentar responder a verificação em duas etapas. Depois de uma semana sem acessar o seu Whatsapp, o aplicativo te permite instalar sua conta do zero. Como se ela fosse nova.

Mais uma dica. Existe um e-mail de suporte do Whatsapp.

Para falar diretamente com o Suporte do WhatsApp via e-mail é só clicar aqui

Ou acessar a página:

https://www.whatsapp.com/contact/?subject=messenger

Dentro do e-mail você vai explicar o que aconteceu e o próprio Whatsapp. O suporte técnico virtual te responde primeiro um email automático e depois vai orientá-lo sobre os procedimentos acima. E fica registrado no aplicativo o seu caso.

O sequestro está logo ali! 

A professora de Jornalismo Vanessa Pedro, da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), acabara de anunciar sua câmera Nikon no site de vendas online OLX. Seu telefone recebe imediatamente uma notificação com uma mensagem de SMS contendo um código e um link. Por estar ciente dos perigos desses links, ela não clicou. 

Poucos segundos depois, o telefone toca.

O número era de São Paulo e ao fundo existiam barulhos semelhantes aos de escritórios de TeleMarketing. 

Todos sabem como são os escritórios: uma sala cheia de computadores e pessoas com seus headsets (fones de ouvido com microfone) falando ao mesmo tempo, uns rindo, outros bravos que fica até difícil de entender a pessoa que você está falando diretamente. 

— Alô, a senhora está subindo um anúncio na OLX?

— Sim, estou. 

— Aqui é da OLX e estamos com um novo procedimento de segurança porque estamos tendo muita fraude. Por acaso a senhora recebeu um SMS nosso?

— Sim, recebi.

— Preciso que a senhora me passe os seis dígitos. A senhora recebeu, não recebeu? — Como se estivesse seguindo um protocolo. 

— Sim. 

— A senhora pode por favor me passar?

Logo em seguida, Vanessa começou a falar os números, acreditando se tratar de um código da própria OLX e não o código de acesso ao seu Whatsapp. Após o sequestrador confirmar os números em voz alta, ela perdeu o acesso ao aplicativo no smartphone e no computador. O Whatsapp foi literalmente sequestrado.

A suspeita era de um bot que funciona escaneando os anúncios mais recentes da OLX com um valor específico.

Luciano Bitencourt, professor na mesma universidade   recebe uma mensagem de Vanessa. 

Era uma quinta-feira e ele estava em um laboratório instalando um sistema de áudio 5.1 há algum tempo, quando recebe uma mensagem em seu celular da professora perguntando se poderia conversar naquele momento. Na mensagem, a pessoa que falava em nome da professora já pedia dinheiro emprestado.

— Estou meio ocupado no momento.— Respondeu. 

Luciano respondeu também que não teria aquele valor. 

Numa tentativa de tentar levar pelo menos alguma coisa, o sequestrador então pede um valor mais baixo, de mil reais, com a promessa de pagar no dia seguinte. 

Luciano aceitou sem questionar. Por ter conta no mesmo banco, a transferência foi realizada em poucos cliques através do mesmo celular.

— Eu não cheguei a verificar nenhum dado da conta, o que foi errado. Porque eu estava mais preocupado com o laboratório e como era a Vanessa, nem me estressei. O grau de confiança entre os professores é grande. 

Poucos segundos depois, uma mensagem da coordenadora do Curso de Jornalismo chega em seu celular comunicando o sequestro do número da Vanessa, que ligou para seus contatos e mandou SMS. Por infelicidade do destino, a informação não tinha chegado no Luciano ainda. 

Na ligação, Daniela Germann fala para Luciano que Vanessa estava na delegacia fazendo um boletim de ocorrência sobre o golpe.

Luciano não pensou duas vezes e foi ao encontro de Vanessa. No mesmo B.O., registraram os dois golpes. O sequestro da conta do Whatsapp e a transferência de dinheiro para o estelionatário. 

O escrivão da Delegacia disse que quase caiu no mesmo tipo de sequestro, mas por já ter a verificação em duas etapas, o sequestrador não conseguiu ter acesso ao seu telefone. Ele desconfiou do golpe depois de passar o código automático e antes de enviar o PIN.

No dia seguinte, Luciano foi até o banco Santander com o Boletim de Ocorrência em mãos para tentar recuperar o dinheiro. 

O gerente alertou a vítima que, nesse tipo de caso, era quase impossível a recuperação do dinheiro caso ele já tivesse sido sacado. Para a felicidade do professor Luciano, a conta tinha sido bloqueada e o seu dinheiro estava lá. 

Ele assinou papéis, escaneou documentos e o B.O. para que tudo entrasse num processo de cancelamento de transação. Também enviou e-mails para central do banco em São Paulo e teve que aguardar. 

Já Vanessa, enquanto Luciano tentava recuperar o dinheiro transferido, também tentava recuperar o acesso ao seu Whatsapp que, mesmo bloqueado para o sequestrador, ainda não era dela de novo. “A recuperação do Whatsapp foi uma saga”, diz Vanessa, se lembrando do ocorrido. 

— Nesses aplicativos, é normal não ter acesso a um telefone. A polícia então passou um e-mail de suporte para que eu conseguisse entrar em contato. Mas, ao mesmo tempo, tentei recuperar minha senha de várias formas, isso fez com que a conta trancasse três horas depois do golpe. 

Primeiro Vanessa pediu uma nova senha. Então, apareceu uma mensagem dizendo que só apenas depois de cinco horas ela poderia fazer a solicitação. Após esperar, fez a solicitação da nova senha, mas, para o azar dela, o ladrão tinha passado o aplicativo para verificação de duas etapas. 

— Se eu clicasse em enviar um e-mail para recuperar a senha, o sequestrador iria ver que eu estava tentando recuperar meu Whatsapp, mas tinha uma segunda mensagem dizendo que se o número ficasse inativo no aplicativo durante mais de seis dias, eu conseguiria recuperar o acesso como se estivesse com um número novo. 

Vanessa esperou e recuperou sua conta. 

Já Luciano, no banco, após as burocracias e o tempo de espera de alguns dias, conseguiu recuperar o valor transferido para a conta bloqueada. 

A Verificação de Duas Etapas

A Verificação em Duas Etapas é uma opção de segurança que muitos aplicativos já utilizam, principalmente aplicativos de bancos e memorizadores de senhas. 

Com ela, você cria uma segunda senha, podendo ser a digital com smartphones com essa função ou uma sequência numérica. Com essa nova senha você cria uma segunda camada de segurança ao acesso desses aplicativos. A do Whatsapp funciona com seis dígitos e com um e-mail para recuperação, caso perca. De vez em quando, o aplicativo a solicita em uma notificação que aparece em destaque na tela. Ela também aparece sempre que você acessa seu mesmo número de outro dispositivo, por isso, bloqueia a entrada de sequestradores digitais.