Entre araras de roupas e música, a principal lição é o consumo consciente
A vontade de abrir um negócio e mudar o mundo gerou a Regouga. Localizado no Centro de Palhoça, o espaço não se trata apenas de um brechó. Nele Jéssica Leonel e Rosani Alberti oferecem uma nova experiência de consumo de moda. A responsabilidade com o meio ambiente é um assunto cada vez mais discutido na sociedade, desde mudanças nos hábitos alimentares até a preocupação com a produção em massa, que faz com que o planeta acumule cada vez mais lixo. Essa busca por novos tecidos, novas formas e novas modas, causam impacto negativo na natureza.
“Nunca foi só brechó para a gente, nós já falávamos de reciclagem, de como reutilizar tecido e transformar roupas que já não podem mais ser consertadas. A gente não aceitava a simples ideia de só jogar no lixo”, conta Jéssica.
Por muito tempo os brechós foram vistos como lugares de pouca importância com roupas que já foram utilizadas por outras pessoas, desgastadas, rasgadas e velhas. Atualmente, os brechós estão dando muitas opções positivas para quem está procurando praticar um consumo mais consciente. A Regouga por exemplo, cuida exclusivamente de cada peça antes de colocá-la à venda. Para a peça chegar nas araras, ela passa por longos cuidados. Tudo lá parece novinho em folha. Elas lavam cada peça com produtos 100% naturais e limpam elas mesmas o espaço. Aliás, Jéssica e Rosani fazem todos os papéis dentro da loja, cuidam das mídias sociais e fotografam. Para a peça chegar nas araras, ela passa por longos cuidados, tudo lá parece novinho em folha.
Jéssica e Rosani trabalhavam na mesma fábrica – uma no setor de e-commerce e a outra no setor de produção – e tinham ideias e visões parecidas sobre o mundo. As duas compartilhavam a mesma vontade de ter um negócio juntas. Por serem envolvidas com moda, tecnologia e vendas, resolveram iniciar uma loja virtual tempos depois de saírem das empresas. A forma mais fácil de abrir uma lojinha sem investir muito dinheiro era criar um site.
A Regouga tem dois anos. Sim! E conseguiu um engajamento orgânico surpreendente. Toda a comunicação da Regouga é feita por elas. Jéssica lembra que quando abriram a loja, elas só tinham o dinheiro para aluguel, então ela usou sua experiência com redes sociais para divulgar o negócio. A Regouga se reinventou várias vezes nos últimos dois anos para aumentar o público. “Queremos tornar acessível para todos os públicos e que o alcance seja cada vez maior’’, diz Rosani.
Reeducação de consumo
“As pessoas não entram aqui, simplesmente compram uma roupa e vão embora. Queremos passar algo para os clientes”, explica Jéssica. Para que o cliente tenha uma reeducação de consumo, elas puxam um assunto que os faça pensar. Por saberem que não é todo mundo que está aberto a mudanças na vida, relembram que no momento atual de crise ambiental vivido no Brasil e no mundo, é o momento oportuno para trazer pessoas do nosso lado. Jéssica se mostra preocupada: “Nada vai mudar se as pessoas não reduzirem o consumo, a indústria continua produzindo mais e mais. A gente compra a ideia de que temos que viver para consumir, e o planeta vai acumulando lixo…”.

Uma forma para incentivar o cliente a consumir do brechó foi criar um clube de trocas. O cliente leva as roupas que não quer mais e recebe um vale-compras pra usar na loja. A quantidade de pessoas que levava roupas com etiquetas era assustadora e elas aproveitavam para falar sobre o consumismo. Comprar coisas demais sem precisar, mas que somos induzidos a comprar.
Rosani lembra que muitas pessoas usam brechó há anos. Não é uma pauta atual. Ela recorda sobre o maior público delas que são pessoas mais humildes, que frequentam a loja e que nunca serão esquecidas por elas. Gostam de incentivar pessoas de menor poder aquisitivo por não ser um motivo de vergonha comprar em brechó.“Você não é menos por estar comprando num brechó, pelo contrário, você é muito massa por estar comprando num brechó”, avalia Rosani e completa que a pessoa com menor poder aquisitivo sai empoderada por estar fazendo o correto.
Essa discussão está sendo cada vez mais atrativa. Hoje muita gente tira foto para postar no Instagram, o que é um efeito positivo para incentivar o próximo. Outra questão eco sustentável, como o veganismo, se expandiu nos últimos anos e vem trazendo cada vez mais adeptos para a loja.
Palhoça menos lixo
O Projeto, que existe em 157 países, foi trazido há um ano para a Palhoça, onde voluntários se unem perto do Dia Mundial da Limpeza para limpar praias, praças, parques e lagos. O idealizador do projeto, Leonardo Quint, conheceu o trabalho da Regouga e convidou as meninas para fazer parte do Palhoça Menos Lixo. Elas se apaixonaram pelo projeto e usam a influência da Regouga para atingir todos os públicos possíveis. No dia 21 de setembro acontece o grande mutirão de limpeza nas praias de Palhoça. Mais de 200 pessoas se disponibilizaram para participar – entre eles 150 escoteiros, instituições privadas e públicas -, o projeto também fornece dados para estudos em cursos de oceanografia da região e cada vez mais o projeto se expande.
Para Jéssica e Rosani, a ideia é projetar essa questão do lixo para toda a cidade. O dia mundial da limpeza será o momento chave para divulgar mais. “As pessoas precisam mudar em casa, porque o lixo que chega na praia é consequência de uma ação que veio da casa de cada um”, comenta Jéssica. Elas esperam que o projeto não se limite só à praia, mas que seja discutido sobre isso em todos os bairros.
Elas finalizam a conversa dizendo que tudo o que a gente faz é política, viver de forma fora do sistema é um ato político. “Nunca tivemos aparência para manter, tudo que a gente faz aqui é de verdade. Precisamos do dinheiro pra viver, nunca escondemos isso, mas nós vivemos isso”. Contam também sobre a quantidade de pessoas que passam diariamente pedindo uma peça de roupa ou um prato de comida, que a questão da desigualdade social é muito forte nos bairros da Palhoça e é mais grave do que imaginam. É muito pra pensar.

Por Chayene Ribeiro