A vida dos cães na Pedra Branca

O bairro Pedra Branca pode ser considerado ideal para tutores de animais.Possui uma vila gastronômica pet-friendly, potes de água disponíveis na calçada e saquinhos para as fezes dos cães em locais estratégicos. Além disso, há também no bairro pet shops, veterinários e uma farmácia de manipulação especial para animais. 

Em uma breve caminhada pelo Passeio Pedra Branca, o principal ponto de comércio do  bairro, observamos cães caminhando com seus donos e, mais próximo à UNISUL, a Universidade do Sul de Catarina, cães, que antes eram “de rua”, e hoje são tradicionalmente cuidados no espaço da universidade, onde também ganham comida, água e até se instalam pelas almofadas do hall do bloco G. 

A Associação de Moradores da Pedra Branca (AMO), embora seja responsável por muitas das melhorias nos espaços do bairro, atividades para lazer e segurança, não tem projetos específicos para a causa animal. “Precisamos de alguém, de um voluntário, para fazer esse tipo de trabalho (com os animais). De ideias estamos cheios, mas não conseguimos executar sem ter alguém”, conta Kim Mendes da Matta Cerejo, superintendente da AMO. E aí que entra o trabalho dos voluntários e simpatizantes da causa.

Voluntários da causa animal

A A3, Associação Amigos dos Animais da Pedra Branca, foi criada em fevereiro de 2017, quando um grupo de cinco pessoas decidiu agir pelo bem-estar animal e propor soluções contra o abandono crescente no bairro. Os voluntários da associação realizam mutirões de castração e adoção, cuidam dos animais abandonados com remédios e comida e ainda pagam hospedagem para os cães que podem causar problemas no bairro, os famosos “líderes de matilha”.

Hoje, a associação conta com 83 sócios contribuintes e é oficialmente uma entidade sem fins lucrativos. “Criamos a A3 para dar alguma sobrevida digna aos cães que já foram abandonados”, contou Mauro Corbeta Regis, voluntário da associação. Dependendo somente de doações para auxiliar tantos animais abandonados, a A3 ainda faz rifas e “vaquinhas” para dar conta do recado. 

cães na pedra branca
Voluntários da A3 em uma feira de adoção. Foto: arquivo pessoal.

Na UNISUL, que também faz parte do bairro, a A3 conta com a ajuda de funcionários e alunos da instituição para cuidar dos cães abandonados nos arredores. Oito cães são fixos do local, transitando de forma tranquila pelas salas, corredores e fazem parte da vida daqueles que deixam. Miriam Caminha, funcionária há 18 anos da UNISUL e voluntária da A3, é uma dessas pessoas. “Eu troco a água e coloco ração todos os dias para eles”, diz Miriam, orgulhosa em poder contribuir de alguma forma para a sobrevivência de seres tão indefesos. Para que isso seja possível, além de tirar dinheiro do próprio bolso, Miriam conta que outros funcionários e alunos também auxiliam com a compra da ração e ações esporádicas, como castrações e remédios.

A universidade não proíbe a entrada nem a permanência dos cães na instituição, que inclusive dormem nos puffs durante o dia. Quando chega o horário de fechamento da instituição, dormem em suas próprias caminhas e almofadas do lado de fora. “Os que não dormem ficam circulando entre a UNISUL e o Passeio”, conclui Miriam. 

Os comedouros e potes com água distribuídos pela universidade foram obra dela e de outros simpatizantes da causa, e os que estão ao longo do Passeio, dos voluntários da A3. Assim, podem se beneficiar tanto os cães em busca de um lar quanto os que estão passeando com seus tutores. 

Segundo Miriam, nos últimos anos houve um aumento significativo no abandono de animais no bairro e arredores. Assim que um novo cão é encontrado e fica na universidade, o primeiro passo é alimentá-lo e dar remédio para os vermes. Depois, com as contribuições, vem a castração para seja adotado.

Os cães que não são fixos na UNISUL são chamados carinhosamente de “agregados”, pois geralmente aparecem para comer ou beber água e voltam para seus respectivos bairros. Caso o cão seja um líder de matilha, corra atrás de motos e carros, ou seja agressivo, a A3 o leva a uma hospedagem, onde é cuidado até que a adoção seja feita. “Alguns cães acabam vindo sozinhos das redondezas, mas outros são abandonados já na universidade”, diz ela, o que pode indicar a infeliz decisão dos tutores em abandonar em um local dito como “seguro”. Há alguns dias, ao chegar na UNISUL, ela se deparou com uma caixa pequena com panos brancos. Já sabia que era um animal abandonado, um cão ou gato. No entanto, a pessoa que abandonou o animal esqueceu que cachorro também anda. O cão não foi encontrado.

O olhar da Pedra Branca para os animais

A boa relação com os animais no bairro é evidente. Tanto na UNISUL ou no Passeio Pedra Branca, os cães são aceitos nos espaços públicos. “Aqui é um bairro diferente, tem áreas abertas, ruas largas… Tudo isso estimula o convívio entre as pessoas e também com os animais”, conta Kim, que também se preocupa com o abandono dos cães e a situação dos cavalos. “As pessoas que gostam de estar em um ambiente como esse costumam ter animais e passear com eles”, conclui o superintendente. “Alguns moradores atribuem ao nosso trabalho o elevado índice de abandono no bairro. É o mesmo que atribuir a fome e a miséria em alguns países africanos à presença dos Médicos Sem Fronteira”, diz Regis, funcionário da A3, quando questionado se há preconceito contra os cães abandonados. 

Para Miriam, também há um carinho especial com os cães da UNISUL e do Passeio por parte dos moradores, frequentadores do bairro, alunos e trabalhadores dos arredores.  Ela recorda de apenas duas situações de maus-tratos: um caso de envenenamento e quando sequestraram Mimosa, uma cachorra que vivia na universidade, e a jogaram na BR. Hoje, Miriam é a tutora dela. Ela também sabe o nome de cada um dos cães que vivem e convivem na UNISUL.

Mariana Pessoa
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